3 mil bicicletas a mais nas ruas divide opiniões
A inclusão de milhares de bicicletas no trânsito paulistano reabre temor da repetição de tragédias
FABIO PAGOTTO
A inclusão de milhares de bicicletas no trânsito paulistano reabre o temor da repetição de tragédias como a que tirou nesta sexta-feira a vida da bióloga Juliana Ingrid Dias. Pelo projeto da Prefeitura, bancos deverão disponibilizar de três mil a cinco mil bicicletas em estações de empréstimo em troca da exploração da publicidade nestes veículos. O usuário cadastra o número de seu cartão de crédito e pode usar uma bicicleta por uma hora, podendo trocá-la por outra quantas vezes quiser dentro deste período. Caso não o faça, paga uma taxa de R$ 5.
Motociclista morre após ‘fechada’ no trânsito
Para o médico Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), o aumento de acidentes com bicicleta será inevitável. “Não temos uma estrutura cicloviária ideal”, falou o médico. Para Alves Júnior, é necessário que a Prefeitura crie espaços para os veículos leves distantes dos veículos pesados. “Senão certamente teremos um aumento dos acidentes com óbitos e sequelados”, advertiu. São Paulo tem, ao todo, 55 quilômetros espalhado por seis ciclovias.
Apesar da previsão pessimista dos médicos, os ciclistas prometem manter os esforços. “É uma questão crônica a falta de respeito conosco”, disse o integrante da ONG Ciclocidade, Thiago Benicchio. Ele conhecia a bióloga atropelada, que participava de eventos da ONG. “O acidente com a Juliana Dias, ou Julie, como era conhecida, aconteceu a apenas 100 metros de onde morreu a Márcia em 2009”, falou Benicchio. Em janeiro de 2009 a cicloativista Márcia Regina de Andrade Prado, de 40 anos, também morreu na Avenida Paulista atropelada por um ônibus.
“São casos e mais casos de atropelamentos de ciclistas por falta de educação, orientação e respeito por parte dos motoristas de ônibus”, afirmou o diretor da ONG. Para Leandro Valverdes, empresário do ramo de bicicletas e ex-diretor da ONG Ciclocidade, o principal entrave ao uso de bicicletas no tráfego de São Paulo é a educação. “Respeito e educação são muito mais importantes do que a estrutura em si”, afirmou Valverdes. “Não é certo segregar a bicicleta a ciclovias. Elas não têm a capilaridade necessária para que o ciclista chegue onde precisa. O correto é educar a população para o uso consciente da bicicleta como meio de transporte e o motorista para aceitar o espaço da bike na rua”, afirmou Valverdes, que usa somente bicicleta para se locomover desde 2001, quando teve o automóvel roubado.