Após 10 anos de espera, ciclovia da Eliseu tem primeiro trecho concluído em São Paulo
Ao longo dos últimos 10 anos, inúmeras promessas foram feitas sobre a imprescindível ciclovia da Av. Eliseu de Almeida, na Zona Sul de São Paulo. Agora, finalmente, temos um primeiro trecho sinalizado. Os cerca de 3 km iniciais da chamada Ciclovia Pirajussara, que haviam sido concretados em dezembro de 2013 pela subprefeitura do Butantã, foram sinalizados pela CET agora em junho. E o compromisso da subprefeitura e da CET é levar a ciclovia até Taboão da Serra ainda em 2014.
O secretário de Transportes Jilmar Tatto pedalou em todo o trecho, junto com Suzana Nogueira, da CET, seguindo ainda até o metrô para avaliar o percurso. Luiz Felippe de Moraes Neto, subprefeito do Butantã, e Ronaldo Tonobohn, também da CET, também estiveram no local.
Acompanhe na videorreportagem de Rachel Schein:
Demanda e necessidade
Durante 3 anos consecutivos, a Ciclocidade realizou contagens de ciclistas na região, demonstrando uma demanda relevante de pessoas utilizando a bicicleta. No início do mês, uma semana antes da sinalização ser implantada, a Ciclocidade realizou uma medição, onde foram contabilizados 648 ciclistas em 14h de contagem – um número alto, mas que seria bem maior se houvesse condições seguras ao longo de toda a avenida para se deslocar pedalando.
Mas não se trata apenas de estimular o uso da bicicleta. É importantíssimo proteger as vidas das pessoas que já utilizam esse caminho. O eixo representado pelas avenidas Eliseu de Almeida e Pirajussara é rota frequente de ciclistas, por ser um caminho plano e direto ligando a região de Taboão da Serra ao centro expandido de São Paulo. E o viário que estimula a velocidade dos automóveis, aliado à falta de fiscalização, acaba por resultar em constantes atropelamentos de ciclistas.
Histórico da Ciclovia Pirajussara
Por Willian Cruz
Primeiro prazo prometia entrega em 2006
Segundo dossiê elaborado pela Ciclocidade, as tentativas de implantação de uma ciclovia na região vêm desde 2004, com a realização do Plano Regional Estratégico do Butantã, que estabeleceu o ano de 2006 como data para a conclusão da obra. No ano seguinte, houve o anúncio da prefeitura de que a estrutura seria concluída até 2010. Em 2008, outro projeto previa infraestrutura cicloviária em vários pontos da cidade, com uma rede estrutural integradora, incluindo o eixo da Eliseu.
Mas, como aponta o relatório da Ciclocidade, “em 2012, ao fim de mais uma gestão, o poder público não deu início a viabilização de qualquer infraestrutura básica a fim de fornecer segurança e conforto para o tráfego de bicicletas nessa importante avenida, acessada diariamente por mais de 600 ciclistas, em condições extremamente precárias e com trânsito intenso de automóveis”. A ciclovia viria a ser iniciada apenas no final de 2013 – quase dez anos depois do primeiro anúncio.
Atraso pago em vidas
Enquanto alguém pensava se desengavetava o projeto ou não e ignorava as alternativas oferecidas, vidas se esvaiam. Em 2012, o pedreiro Lauro Neri morreu na avenida, gerando protestos. Próximo a região, na Av. Francisco Morato, Nemésio Ferreira Trindade também teve sua vida interrompida, em novembro do mesmo ano. Em agosto de 2013, o chefe de cozinha José Aridelson morreu na rua Ari Aps, paralela à Rodovia Raposo Tavares. Em janeiro de 2014, o frentista Maciel de Oliveira Santos, de 42 anos, perdeu sua vida na Av. Pirajussara quando voltava pedalando para casa. São pessoas que continuariam vivendo junto a seus amigos e familiares se a infraestrutura prometida para a região já tivesse sido entregue.
Manifestações e cobranças foram constantes
Além das cobranças da imprensa e de ciclistas e moradores, que chegaram a entregar um abaixo assinado à Prefeitura, a Ciclocidade realizou uma reunião com a subprefeitura do Butantã em setembro de 2010 (que, naquele momento, assumia para si a responsabilidade pela ciclovia). Nessa reunião, os representantes da entidade ficaram sabendo que o início das obras não ocorreria antes do final de 2011, quando seria concluída a canalização do córrego Pirajussara.
A Ciclocidade sugeriu então uma nova proposta cicloviária, com a infraestrutura para bicicletas junto à calçada. Desse modo, a segurança dos ciclistas naquele importante e bastante utilizado eixo de deslocamento seria atendida mais rapidamente. Mas imprensa, ciclistas, moradores e a associação de ciclistas mais uma vez não foram levados a sério: a canalização foi concluída, mas as obras da ciclovia não começaram.
A mobilização prosseguiu. Em maio de 2012, um abaixo assinado pedindo a construção da ciclovia foi entregue ao então prefeito Gilberto Kassab. Em dezembro do mesmo ano, cidadãos realizaram uma manifestação na avenida. Outra manifestação aconteceu em fevereiro de 2013, dessa vez com a presença do subprefeito do Butantã e diversos vereadores (veja aqui), que propuseram um encontro na Câmara Municipal de São Paulo para discutir a construção da ciclovia. Uma carta de reivindicações foi apresentada nesse encontro. Na reunião foi apresentado um plano da prefeitura para a região e discutidas as possibilidades com os cidadãos.
Finalmente a implantação
Em setembro de 2013, o subprefeito do Butantã, Luiz Felippe de Moraes Neto, apresentou um projeto para a ciclovia, novamente na Câmara Municipal, em reunião da Frente Parlamentar em Defesa da Mobilidade Humana. Infelizmente o projeto não foi aprovado pela CET, por falta de qualidade técnica.
A recusa levou o subprefeito a buscar uma solução alternativa pra conseguir iniciar logo as obras – o que veio a ocorrer em dezembro de 2013, com a implementação de um primeiro trecho da ciclovia, ainda sem sinalização (saiba mais).
Em junho de 2014, a Ciclocidade realizou nova medição, contabilizando 648 ciclistas em 14h de contagem. Uma semana depois, a sinalização desse trecho inicial foi finalmente implantada pela CET, com a promessa de levar a ciclovia até o Taboão ainda esse ano. Seguiremos acompanhando.
FONTE: Vá de Bike