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Atenção, ciclistas na pista

 

Uma entrevista com Thiago Bennichio, presidente da associação Ciclocidade

 

Inclusão do ciclista, implantação de infraestrutura e educação de trânsito são as medidas sugeridas por Thiago Bennichio para melhorar a segurança dos ciclistas no Brasil. Benicchio é presidente da Ciclocidade – Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo, entidade que trabalha para estimular o uso da bicicleta como instrumento de mobilidade urbana. Conversamos com ele (por telefone) para comentar algumas medidas polêmicas das autoridades na gestão desse novo (velho) componente do tráfego urbano. Confira as opiniões.

 

Repressão ao ciclista: ciclofobia?

No Brasil, vivemos uma onda repressiva contra ciclistas. Há pouco, tivemos a ação da prefeitura de Barretos (SP) que recolheu bicicletas e multou seus condutores. Logo depois, a prefeitura de Santos anunciou o projeto de eliminar uma das ciclovias da cidade litorânea. E na semana passada, a cidade de São Paulo começou a discutir uma proposta para o emplacamento de bicicletas. Como as autoridades têm de dificuldade de lidar com as bicicletas, preferem adotar medidas restritivas, e a mais simples delas é a punição.

 

Como incluir o ciclista no trânsito

Um amigo sueco me lembrou que enquanto em algumas cidades da Europa as pessoas atravessaram quase todo o século 20 convivendo com a evolução da bicicleta, na América – incluindo o Brasil e os Estados Unidos -, esse veículo foi banido dos espaços urbanos por causa da expansão do automóvel. A reinclusão do ciclista no trânsito é tarefa para algumas décadas e está apenas começando nos EUA, e mal começou no Brasil.

 

 

Que medidas seriam prioritárias?

Primeiro, a inclusão com a implantação de infraestruturas adequadas que orientem os ciclistas, motoristas e pedestres a encontrar seus lugares adequados nas ruas das cidades. Um exemplo com pedestres: por quê as pessoas às vezes atravessam as ruas fora das faixas, ou com o sinal vermelho fechado? Simplesmente porque as faixas não estão bem posicionadas, ou os semáforos demoram a abrir e depois fecham rapidamente, sem o tempo adequado para a travessia normal. Com os ciclistas é a mesma coisa: se houver ciclovias ou ciclofaixas, sinalização específica e respeito, as pessoas aprenderão a usar. E respeitarão.

 

Educação para o trânsito

Também é necessária uma ação de educação permanente, que inclua escolas, famílias e também em rádio, televisão, jornais, revistas, internet e cartazes, todos os dias, durante vários anos. Não adianta fazer uma campanha rápida e depois esquecer o assunto. A sociedade precisa saber que o ciclista tem direito de circular na rua. Em outra frente, o ciclista precisa se “empoderar” a respeito de seus direitos, conhecer seus deveres, e aprender a relacionar-se com os motoristas.

 

Punição sem critério

A educação não é um processo rápido, às vezes leva gerações, mas é só depois dessa etapa e da inclusão do ciclista com infraestrutura adequada que, a autoridade poderia começar as ações punitivas. A punição, da forma como foi feita em Barretos, é precipitada e desmedida. No Brasil, as punições são desproporcionais. O risco que uma bicicleta oferece é muito menor do que a ameaça de um carro ou de um caminhão. E as estatísticas mostram que os condutores de veículos motorizados são os responsáveis pela maior parte das mortes no trânsito.

 

Ciclistas fora da lei

A falta de infraestrutura e de respeito é que induz o ciclista a andar na calçada, ou a circular na contramão. Andar na calçada é uma medida defensiva, porque em algumas vias de tráfego rápido o risco de atropelamento é muito grande. E mesmo pessoas como eu, que conhecem as leis e entendem a lógica do trânsito, às vezes são obrigadas a circular na contramão por um ou dois quarteirões para fugir de uma via mais perigosa. O ideal é que a punição seja formalizada em cidades onde a cultura da bicicleta já tenha algumas décadas.

 

A bicicleta no Brasil

Não tenho dúvidas de que hoje já existe a consolidação do desejo da sociedade em usar a bicicleta no meio urbano. Isso fica mais evidente em cidades como São Paulo, onde a situação da imobilidade é muito grave e todos já sabem que não adianta mais construir novas pistas, avenidas, viadutos etc. Mas, gradativamente, o conceito da bicicleta urbana está se alastrando por todas as cidades do país.

 

 

FONTE

 


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