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Ciclovia da Av. Eliseu de Almeida, em São Paulo, deve ser sinalizada nos próximos dias

Há boas notícias sobre a Ciclovia Pirajussara, na Av. Eliseu de Almeida. Apesar da ausência do Secretário de Transportes, que segundo a agenda oficial visitaria o trecho inicial da Ciclovia Pirajussara, o secretário adjunto, José Evaldo Gonçalo, esteve no local na quinta-feira 8 de maio, juntamente com o subprefeito do Butantã, Luiz Felippe de Moraes Neto. Em seguida, foram para a Casa de Cultura, onde alguns anúncios foram feitos.

Na Casa de Cultura do bairro do Butantã, os representantes do poder público ouviram a população. “Das 10 manifestações, 8 falaram sobre pedestres, bicicletas e transporte coletivo”, relata Daniel Guth. “A população está super organizada e com foco na mobilidade ativa, o que é lindo de ver”, completa.

Sinalização e extensão são promessas para este ano
A informação passada pelo secretário adjunto e pelo subprefeito é de que a sinalização do trecho já existente da ciclovia começaria já na semana seguinte. Isso é importantíssimo, pois no trecho atual não há sinalização alguma nos cruzamentos, o que acaba colocando em grave risco os ciclistas que transitam por lá. Isso se deve ao fato do trecho ter sido construído como “reforma de calçada”, a única maneira de implantá-lo ainda em 2013 depois que o projeto técnico foi recusado pela CET-SP (Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo).

A extensão até Taboão da Serra – proposta original da ciclovia e principal demanda – será concluída até o final do ano, um compromisso assumido pelo subprefeito Luiz Felippe. A ligação com a USP seria implantada em 2015.

Não houve informação sobre de onde viria a verba para esse projeto, mas o compromisso político foi feito e certamente será cobrado pela população. Em 2013, a CET havia reservado 2 milhões de reais para a Ciclovia Pirajussara, mas com a recusa técnica do projeto o dinheiro foi redirecionado para outra ciclovia, no Jardim Helena.

A ciclovia no eixo Pirajussara-Eliseu vem sendo prometida e adiada sucessivamente há dez anos.

A demanda e a urgência
Durante 3 anos consecutivos, a Ciclocidade realizou contagens de ciclistas na região, demonstrando uma demanda relevante de pessoas utilizando a bicicleta. Em 2012, foram fotografados 561 ciclistas na avenida entre as 6h e 20h – um número alto, mas que seria bem maior se houvessem condições seguras para os cidadãos que pedalam para se deslocar. É o que ocorreu na Av. Faria Lima, por exemplo.

Não se trata apenas de estimular o uso da bicicleta, mas de proteger as vidas das pessoas que já a utilizam. O eixo representado pelas avenidas Eliseu de Almeida e Pirajussara é muito utilizado por ciclistas, por ser um caminho plano e direto ligando a região de Taboão da Serra ao centro expandido de São Paulo. E o viário que estimula a velocidade dos automóveis, aliado à falta de fiscalização, acaba por resultar em constantes atropelamentos de ciclistas.

Em 2012, o pedreiro Lauro Neri morreu na avenida, gerando protestos. Próximo a região, na Av. Francisco Morato, Nemésio Ferreira Trindade também teve sua vida interrompida por um motorista de ônibus que trafegava fora da faixa exclusiva, em novembro do mesmo ano. Em agosto de 2013, o chefe de cozinha José Aridelson morreu na rua Ari Aps, paralela à Rodovia Raposo Tavares, quando voltava do trabalho pra casa. Em janeiro de 2014, o frentista Maciel de Oliveira Santos, de 42 anos, perdeu sua vida na Av. Pirajussara quando voltava pedalando para casa. São pessoas que continuariam vivendo junto a seus amigos e familiares se já tivéssemos infraestrutura para bicicletas na região e uma cultura de respeito a quem pedala pelas ruas.

Histórico da ciclovia da Eliseu de Almeida
Segundo dossiê elaborado pela Ciclocidade, as tentativas de implantação de uma ciclovia na região vêm desde 2004, com a realização do Plano Regional Estratégico do Butantã, que estabeleceu o ano de 2006 como data para a conclusão da obra. Mas, no ano seguinte, houve o anúncio da prefeitura de que a estrutura seria concluída até 2010. Em 2008, outro projeto previa infraestrutura cicloviária em vários pontos da cidade, com uma rede estrutural integradora, incluindo o eixo da Eliseu.

Mas, como aponta o relatório da Ciclocidade, “em 2012, ao fim de mais uma gestão, o poder público não deu início a viabilização de qualquer infraestrutura básica a fim de fornecer segurança e conforto para o tráfego de bicicletas nessa importante avenida, acessada diariamente por mais de 600 ciclistas, em condições extremamente precárias e com trânsito intenso de automóveis”. A ciclovia viria a ser iniciada no final de 2013.

Não foi por falta de pedir
Além das cobranças da imprensa e de ciclistas e moradores, que chegaram a entregar um abaixo assinado à Prefeitura, a Ciclocidade realizou uma reunião com a subprefeitura do Butantã em setembro de 2010 (que, naquele momento, assumia para si a responsabilidade pela ciclovia). Nessa reunião, os representantes da entidade ficaram sabendo que o início das obras não ocorreria antes do final de 2011, quando seria concluída a canalização do córrego Pirajussara.

A Ciclocidade sugeriu então a possibilidade de uma nova proposta cicloviária, com a infraestrutura para bicicletas junto à calçada. Desse modo, a segurança dos ciclistas naquele importante e bastante utilizado eixo de deslocamento seria atendida mais rapidamente. Mas imprensa, ciclistas, moradores e a associação de ciclistas não foram levados a sério. A canalização foi concluída, mas as obras da ciclovia não começaram. Enquanto alguém pensava se desengavetava o projeto ou não e ignorava as alternativas oferecidas, vidas se esvaiam.

A mobilização prosseguiu. Em maio de 2012, um abaixo assinado pedindo a construção da ciclovia foi entregue ao então prefeito Gilberto Kassab. Em dezembro do mesmo ano, cidadãos realizaram uma manifestação na avenida. Outra manifestação aconteceu em fevereiro de 2013, dessa vez com a presença do subprefeito do Butantã e diversos vereadores (veja aqui), que propuseram um encontro na Câmara Municipal de São Paulo para discutir a construção da ciclovia. Uma carta de reivindicações foi apresentada nesse encontro. Na reunião foi apresentado um plano da prefeitura para a região e discutidas as possibilidades com os cidadãos.

Em setembro de 2013, o subprefeito do Butantã, Luiz Felippe de Moraes Neto, apresentou um projeto para a ciclovia, novamente na Câmara Municipal, em reunião da Frente Parlamentar em Defesa da Mobilidade Humana. Infelizmente o projeto não foi aprovado pela CET, por razões técnicas, o que levou o subprefeito a buscar uma solução alternativa pra conseguir iniciar logo as obras, o que veio a ocorrer em dezembro de 2013 (saiba mais).

Ciclocidade entregou carta com demandas
Durante o encontro, a Ciclocidade – Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo – entregou uma carta ao secretário adjunto, ressaltando a importância da ciclovia e a urgência de sua implantação. Entre as demandas apontadas, a de “garantir medidas de urgência, como a sinalização vertical e horizontal de trânsito compartilhado e campanhas educativas concentradas no local, bem como fiscalização de infrações”. A viabilização da passagem segura pelas pontes pontes do Jaguaré, Cidade Universitária, Eusébio Matoso, Cidade Jardim e Cidade Universitária também constam do documento. Nessa última, a recomendação é que uma adaptação seja construída em caráter de urgência.

Veja a íntegra da carta:

“Considerada estratégica para a mobilidade de São Paulo, a área que abrange a subprefeitura do Butantã, é acessada diariamente por milhares de pessoas em trânsito, vindas de Taboão da Serra e Osasco, além de bairros como o Campo Limpo. Concentra, em algumas de suas particularidades, 5 importantes alças de acesso (pontes) à cidade; o campus da mais importante universidade do País; o Instituto Butantã, um dos maiores centros de pesquisa em biomédica do mundo; uma linha do metrô e, por conta da divisa com a Marginal do Rio Pinheiros, acolhe uma das mais movimentadas linhas férreas paulistanas. Não só, mas também por conta disso, há um grande número de pessoas que utilizam as vias da região para se locomover por bicicletas, fugindo dos intensos e estressantes congestionamentos.

A construção do trecho apresentado hoje ao secretário Jilmar Tatto significa, para os ciclistas da região, entre outras coisas, um importante primeiro passo do poder público para garantir a mobilidade por meio da implantação da estrutura cicloviária adequada à demanda real e potencial existente.

Gostaríamos de destacar publicamente, porém, que esse trecho não significa a totalidade da obra cicloviária para a Avenida Eliseu de Almeida e, também, que ainda não sabemos como e quando acontecerão as etapas de sinalização do trajeto, garantindo a segurança dos ciclistas e motoristas que utilizam as vias do Butantã.

O executivo municipal insiste em fazer obras e ações destinadas à bicicleta com pouca abrangência e baixa qualidade, sem consulta à população interessada. Recentemente, por exemplo, em um pequeno trecho da Avenida Politécnica, foi implantada estrutura semelhante à uma ciclovia, embora não fique muito claro seu objetivo, uma vez que não há nenhuma sinalização e funcionalidade.

Quem hoje circula desavisado pela até então inóspita Avenida Eliseu de Almeida custa a acreditar que a paisagem de antes não continha o movimento e a fluidez das pessoas.

Antiga demanda local, o trecho entregue a população não só fez crescer o número de ciclistas nas ruas, aliviando o transito local, como aumentar as vendas em estabelecimentos comerciais que margeiam a ciclovia, como padarias e farmácias.

A aposta nas bicicletas, como se sabe, é uma das ferramentas mais inteligentes para alinhar ganhos sociais e econômicos à gestão de uma grande cidade.

Sabemos que a utilização da bicicleta contribui para a redução de congestionamentos, da emissão de gases poluentes e promove a saúde dos cidadãos de grandes centros urbanos, gerando importantes economias, como comprovado por pesquisas e estudos amplamente reconhecidos. Acreditamos que a priorização da bicicleta como modal de transporte é um passo necessário para a melhoria da qualidade de vida na cidade. Acreditamos ainda que a participação da sociedade é uma condição básica para as políticas públicas, incluindo as de mobilidade urbana. Para isso é preciso visão e vontade política.

Temos convicção que nosso desejo de segurança e conforto reflete não apenas uma demanda importante dos moradores e trabalhadores do Butantã e de bairros e cidades próximas, como está plenamente justificada por leis, documentos oficiais e pelo bom entendimento das políticas públicas de mobilidade urbana.

A partir do que foi apontado acima, apresentamos aqui um conjunto de questionamentos e demandas, produzidos a partir de ampla articulação local:

– A implantação de ciclovia em apenas um trecho da Avenida Eliseu até a Rua Santa Albina deve ser vista apenas como uma etapa, insuficiente para dar conta da demanda local, devendo ser prevista a continuidade da obra ao longo de todo eixo em curto prazo.

– Enquanto não for implantada a ciclovia em toda sua extensão, o poder público deve garantir medidas de urgência, como a sinalização vertical e horizontal de trânsito compartilhado e campanhas educativas concentradas no local, bem como fiscalização de infrações. As medidas paliativas, no entanto, não devem ser tomadas como permanentes e, ao longo de todo processo, deve haver transparência em relação as etapas da realização do projeto para a região e maior divulgação de informações para monitoramento do cronograma pela população;

– A ausência de passagem adequada para ciclistas e pedestres nas pontes é reconhecidamente um fator de alto risco. Por conta disso, deve ser imediatamente apresentado um cronograma para a implantação de passagem nas pontes do Jaguaré, Cidade Universitária, Eusébio Matoso e Cidade Jardim. A ponte da Cidade Universitária deve ser priorizada, sendo construída a adaptação em caráter de urgência.

– Além do eixo Eliseu-Pirajussara, é prioritária a implantação de estrutura cicloviária na Av. Corifeu de Azevedo Marques, Av. Valdemar Ferreira, Av. Afrânio Peixoto, Av. Lineu de Paula Machado (calçada lateral ao Jóquei Club), Av. Jorge João Saad, Av. Jules Rimet (com ligação a Paraisópolis). Em vias locais (de menor tráfego), devem ser implantadas ciclorrotas (trânsito compartilhado), com redução dos limites de velocidade para 30Km/h onde o limite for superior e medidas de acalmamento de tráfego.

– O uso de canteiros centrais para implantação de ciclovias não é a única nem necessariamente a melhor opção de estrutura cicloviária. Ele deve ser exceção, quando não há como implantar ciclofaixas (via para bicicleta pintada nas pistas de rolamento), ou até ciclovias nos bordos da pista ou lindeiras às calçadas.

– A infraestrutura implantada deve considerar a diretriz estabelecida em lei e garantir a priorização do modal não motorizado em relação aos motorizados. Eventuais cruzamentos entre a ciclovia e a pista de veículos motorizados devem ser elevados e sinalizados de forma a garantir a preferência de quem usa a bicicleta. Os acessos à ciclovia devem garantir o conforto e a segurança dos ciclistas, estando localizados em intervalos regulares e bem sinalizados.

– A Prefeitura do Município deve buscar o diálogo e a colaboração com a Prefeitura do Campus da Universidade de São Paulo (USP) do Butantã, para que sejam implantadas vias de bicicleta, integrando o campus à cidade, como já foi sugerido em projeto por alunos e professores de diferentes faculdades. À Prefeitura cabe também garantir a ligação segura destas vias internas com o restante da cidade. Ou seja, o município deve ver a USP como um espaço privilegiado para promover o uso da bicicleta como modal de transporte.

– A Prefeitura deve também dialogar com Metrô, CPTM e EMTU para que se garanta:

a) bicicletário na Estação Butantã e na futura Estação Vila Sônia em funcionamento no mesmo horário do Metrô e dimensionado para suportar um número de bicicletas adequado à demanda (hoje inferior, no caso do Butantã);

b) bicicletários nas estações Cidade Universitária, Villa Lobos, Pinheiros e Cidade Jardim, da CPTM, com capacidade adequada à demanda e horários compatíveis com o funcionamento dos trens.

c) a não sobreposição de projetos de órgãos distintos, como o corredor Butantã-Itapevi da EMTU

Além disso, a própria Prefeitura deve implantar paraciclos nas principais centralidades do Butantã.

– Garantir a iluminação da ciclovia, de forma a aumentar a segurança e evitar acidentes.

– Os cruzamentos devem contar com travessias semaforizadas de pedestres e ciclistas, assim como acesso à ciclovia em intervalo não superior a 500 metros, garantindo o conforto e segurança dos modos suaves. Em todas as paradas de ônibus, deve haver travessia de pedestres e ciclistas, além de paraciclos.

– No projeto de ciclovia da Avenida Deputado Jacob Salvador Zveibil, mover a ciclovia do canteiro central para os bordos direitos da sua pista, em suas respectivas mãos de direção, de modo a se integrar melhor com os deslocamentos por bicicleta locais, além de ser uma opção mais segura e facilitar o acesso ao Shopping de um lado e à Avenida Eliseu de Almeida do outro.

– Analisar como fazer a ligação com ciclorrota que se inicia na Rua Engenheiro Bianor. Essa modificação afasta o ciclista de trechos frequentemente congestionados por carros e ônibus, elimina o complicado compartilhamento de calçada e integra a ciclovia com outras infraestruturas cicloviárias existentes (ciclofaixas e ciclorrotas). É de grande importância não eliminar os espaços de pedestres.

Todos os itens aqui mencionados devem ser transformados num cronograma construído em diálogo com a sociedade civil e suas informações devem ser atualizadas para monitoramento, podendo ser facilmente acessadas pela população interessada, de preferência, disponíveis para consulta online.

A infraestrutura implantada deve considerar a diretriz estabelecida na Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/12) e garantir a priorização do modal não motorizado em relação aos motorizados

Histórico:

A implantação de uma ciclovia ao longo de toda a Avenida Eliseu de Almeida (incluindo a sua extensão, a Av. Pirajussara) foi anunciada pela primeira vez em 2004, com a realização do Plano Regional Estratégico do Butantã (previsto pela Lei Municipal 13.885), que estabeleceu o ano de 2006 como data para a conclusão da obra. Em 2007 a municipalidade anunciou que a ciclovia seria concluída até 2010.

Em 2012, ao fim de mais uma gestão, o poder público não deu início a viabilização de qualquer infraestrutura básica a fim de fornecer segurança e conforto para o tráfego de bicicletas nessa importante avenida, acessada diariamente por mais de 600 ciclistas, em condições extremamente precárias e com trânsito intenso de automóveis.

A morte do ciclista Lauro Neri, em abril de 2012, expôs a incapacidade da Prefeitura em proteger os ciclistas que circulam naquela região. Alguns meses depois, o ciclista Nemésio Trindade morria na Av. Francisco Morato, dois quarteirões de onde deveria estar a ciclovia, evidenciando mais uma vez os resultados do total descaso dos gestores públicos municipais.

A inexistência de uma estrutura cicloviária que ligue os bairros ao centro e aos principais modais de transporte público ignora um importante conjunto de leis: a Lei Municipal nº 14.933/2009, a Lei Municipal nº 14.266/2007 e a Lei Federal nº 12.587/2012.”

 

FONTE: Vá de Bike

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