Cidade não foi planejada para a bicicleta’
Após reportagem no ‘Diário Oficial’, ortopedista diz que os ciclistas são vítimas da falta de estrututura
Silvério Morais
Um texto divulgado na semana passada no “Diário Oficial” de São Paulo levantou uma polêmica. A publicação dizia que os ciclistas devem deixar de trafegar no trânsito da capital para se proteger, o que repercutiu nas redes sociais e revoltou quem defende o uso da bicicleta como meio de transporte.
Segundo o médico que foi a fonte da matéria “Mais ciclistas, mais acidentes”, o que o levou a recomendar a saída das bikes da área urbana é o fato de a atual estrutura do sistema viário ser perigosa para elas. “A cidade não foi pensada para a bicicleta como meio de transporte. São décadas de falta de planejamento”, critica.
“Eu não sou contra as bicicletas. Os ciclistas não são os culpados, são as vítimas”, observa. O ortopedista alerta que é preciso exigir estrutura, antes de se arriscar em vias como as avenidas 23 de Maio e Paulista. Segundo o médico, a falta de espaço para bicicletas nesses lugares pode resultar em acidentes em que os ciclistas são sempre suscetíveis a lesões graves.
De acordo com Jorge, os principais traumas dos ciclistas que chegam ao Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, onde ele é chefe do grupo de trauma ortopédico, são de crânio, lesão na coluna vertebral e fraturas nos membros superiores, na tíbia e no fêmur. Foram dez internações desse tipo em 2011. Neste ano, até o dia 25 de junho, já foram registradas nove.
Segundo pesquisa da Secretaria Estadual de Saúde, no ano passado, 3,4 mil ciclistas foram internados pelo Sistema Único de Saúde, gerando custo de R$ 3,25 milhões à administração estadual. E, de acordo com os dados, pelo menos um ciclista internado morre por dia.
Rede cicloviária/ “Temos o direito de estar na rua e precisamos ser respeitados”, defende Thiago Benicchio, diretor da ONG Ciclocidade. Ele destaca que o uso da bicicleta representa a diminuição dos gastos com saúde, pois combate o sedentarismo e os efeitos da obesidade, além de diminuir a poluição e os congestionamentos.
Thiago reconhece que é necessário mais investimento do poder público na infraestrutura viária para os ciclistas trafegarem com segurança.
Na opinião dele, é preciso ampliar a rede cicloviária da cidade, com ciclovia (espaço exclusivo para bicicletas, com separação física), ciclofaixa (geralmente separada com blocos de concreto ou cones) ou trânsito compartilhado (sem delimitação entre as faixas para carros ou bicicletas).
Prefeitura prevê ampliar a malha cicloviária
A CET informa que a atual malha cicloviária conta com 182,7 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e rotas de bicicletas. A Secretaria Municipal de Transportes trabalha com um plano cicloviário que prevê a adoção de medidas de educação para o compartilhamento seguro do espaço viário entre veículos motorizados e bicicletas, além de ações de fiscalização para garantir o respeito à circulação de ciclistas.
Está em andamento uma licitação para a implantação de 55 quilômetros de ciclovias e ciclorrotas em bairros distantes do Centro, nas regiões Norte, Sul e Leste, onde pesquisa feita pelo Metrô, em 2007, apontou maior número de viagens por bicicleta para transporte de casa ao trabalho. Ainda de acordo com o órgão, será aberta nos próximos meses uma ciclovia na Avenida Brás Leme, na Zona Norte, com seis 6 quilômetros de extensão.
A CET afirma que o número de mortes de ciclistas diminui ano a ano, o que atribui às ações de engenharia e educativas. O órgão garante que aumentou a fiscalização para coibir o desrespeito de motoristas a quem anda de bicicleta.
PUBLICADO EM 15/07/2012
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