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Contagem apontou aumento de deslocamentos em bicicleta na Av. Eliseu de Almeida, em São Paulo

Por Daniel Guth

Na terça-feira, 10 de Junho, a Ciclocidade realizou mais uma contagem de ciclistas na avenida Eliseu de Almeida, região do Butantã, zona oeste da capital paulista. Apesar da garoa implacável durante todo o dia, os números foram mais uma vez expressivos e apontam para um crescimento sustentado dos deslocamentos de bicicleta no local: 648 ciclistas passaram pela esquina da avenida Eliseu de Almeida com a avenida Jacob Zveibil, entre 6h e 20h. Para efeito de comparação, em 2010 foram contabilizados 561 ciclistas e, em 2012, 580.

Se infraestrutura cicloviária cumpre um papel essencial no atendimento à demanda real, ou seja, àqueles que já se utilizam daquele trajeto em seus deslocamentos diários, o mesmo pode ser dito sobre o atendimento à demanda reprimida.

É difícil imaginar alguém que, por resistências intransponíveis, não gostaria de se locomover de bicicleta em São Paulo. É exatamente por isso que uma ciclovia bem implantada, conectando pontos de interesse e centralidades, faz emergir novos ciclistas diariamente.

E esse é o caso da Ciclovia Pirajussara, na Eliseu de Almeida. A ciclovia está (ainda) inacabada: a sinalização acaba de ser concluída, mas sua principal demanda – chegar até Taboão da Serra – ainda não foi concretizada. A promessa dos agentes públicos é garantir os quilômetros adicionais e chegar ao Taboão até o final deste ano. Acompanhemos e cobremos.

Obs.: A medição foi realizada antes da sinalização ser implantada pela CET, enquanto a ciclovia tinha apenas o pavimento.

Bicicletário lotado
Um sintoma de que esta ciclovia beneficiará – e já beneficia – uma quantidade cada vez maior de ciclistas é a superlotação do bicicletário da estação Butantã do Metrô. Com capacidade para 110 bicicletas, é comum verificar dezenas de bicicletas amarradas nos postes do entorno da estação após o esgotamento do atendimento das vagas disponíveis. É preciso que a Via Quatro, em caráter de urgência, apresente uma solução para a demanda real destes ciclistas, ampliando o bicicletário e ofertando maior facilidade na integração dos modais (isto inclui, além do espaço físico, ampliação no horário de funcionamento do bicicletário para que este seja, no mínimo, parelho com o horário de funcionamento da estação).

Outro aspecto que evidencia o acertado caminho por uma infraestrutura permanente e segura para ciclistas é o aumento do número de mulheres utilizando a bicicleta como meio de transporte. Se em 2012 observamos somente 20 mulheres pedalando pelo local da contagem, este ano o número mais do que dobrou, alcançando 45 mulheres.

Trata-se evidentemente de um número muito aquém do desejável. No entanto, são os dados técnicos e comparativos, aliados à análise que fazemos sobre eles, que nos fornecerão os elementos necessários para avaliar e, por que não, avalizar uma correta política pública para a ciclomobilidade na cidade.

Como bem disse Tais Balieiro, diretora de pesquisa da Ciclocidade e coordenadora da atividade de contagem, “o Poder Público, que é quem deveria fazer este tipo de contagem, não faz ou faz muito pouco”. Deixamos, portanto, nosso apelo para que os gestores, em todas as esferas, consigam fazer avaliações sobre os impactos de políticas públicas. Antes, durante e depois de implantadas.

Outras contagens serão realizadas pela Ciclocidade, especialmente após o término da implantação, quando a ciclovia chegar a Taboão da Serra e integrar, definitivamente, com a Estação Butantã do metrô. O prognóstico parece bastante claro: milhares de atuais ciclistas serão beneficiados e outros milhares de não ciclistas se sentirão tentados a optar pela bicicleta como meio de transporte. Não houvesse o histórico das contagens, esse prognóstico seria apenas uma previsão mística ou um feeling de quem quer, desesperadamente, ver aumentar a participação da bicicleta nas viagens realizadas diariamente na cidade.

 

Histórico da Ciclovia Pirajussara
Por Willian Cruz

Primeiro prazo prometia entrega em 2006

Segundo dossiê elaborado pela Ciclocidade, as tentativas de implantação de uma ciclovia na região vêm desde 2004, com a realização do Plano Regional Estratégico do Butantã, que estabeleceu o ano de 2006 como data para a conclusão da obra. No ano seguinte, houve o anúncio da prefeitura de que a estrutura seria concluída até 2010. Em 2008, outro projeto previa infraestrutura cicloviária em vários pontos da cidade, com uma rede estrutural integradora, incluindo o eixo da Eliseu.

Mas, como aponta o relatório da Ciclocidade, “em 2012, ao fim de mais uma gestão, o poder público não deu início a viabilização de qualquer infraestrutura básica a fim de fornecer segurança e conforto para o tráfego de bicicletas nessa importante avenida, acessada diariamente por mais de 600 ciclistas, em condições extremamente precárias e com trânsito intenso de automóveis”. A ciclovia viria a ser iniciada apenas no final de 2013 – quase dez anos depois do primeiro anúncio.

Atraso pago em vidas
Enquanto alguém pensava se desengavetava o projeto ou não e ignorava as alternativas oferecidas, vidas se esvaiam. Em 2012, o pedreiro Lauro Neri morreu na avenida, gerando protestos. Próximo a região, na Av. Francisco Morato, Nemésio Ferreira Trindade também teve sua vida interrompida, em novembro do mesmo ano. Em agosto de 2013, o chefe de cozinha José Aridelson morreu na rua Ari Aps, paralela à Rodovia Raposo Tavares. Em janeiro de 2014, o frentista Maciel de Oliveira Santos, de 42 anos, perdeu sua vida na Av. Pirajussara quando voltava pedalando para casa. São pessoas que continuariam vivendo junto a seus amigos e familiares se a infraestrutura prometida para a região já tivesse sido entregue.

Manifestações e cobranças foram constantes
Além das cobranças da imprensa e de ciclistas e moradores, que chegaram a entregar um abaixo assinado à Prefeitura, a Ciclocidade realizou uma reunião com a subprefeitura do Butantã em setembro de 2010 (que, naquele momento, assumia para si a responsabilidade pela ciclovia). Nessa reunião, os representantes da entidade ficaram sabendo que o início das obras não ocorreria antes do final de 2011, quando seria concluída a canalização do córrego Pirajussara.

A Ciclocidade sugeriu então uma nova proposta cicloviária, com a infraestrutura para bicicletas junto à calçada. Desse modo, a segurança dos ciclistas naquele importante e bastante utilizado eixo de deslocamento seria atendida mais rapidamente. Mas imprensa, ciclistas, moradores e a associação de ciclistas mais uma vez não foram levados a sério: a canalização foi concluída, mas as obras da ciclovia não começaram.

A mobilização prosseguiu. Em maio de 2012, um abaixo assinado pedindo a construção da ciclovia foi entregue ao então prefeito Gilberto Kassab. Em dezembro do mesmo ano, cidadãos realizaram uma manifestação na avenida. Outra manifestação aconteceu em fevereiro de 2013, dessa vez com a presença do subprefeito do Butantã e diversos vereadores (veja aqui), que propuseram um encontro na Câmara Municipal de São Paulo para discutir a construção da ciclovia. Uma carta de reivindicações foi apresentada nesse encontro. Na reunião foi apresentado um plano da prefeitura para a região e discutidas as possibilidades com os cidadãos.

Finalmente a implantação
Em setembro de 2013, o subprefeito do Butantã, Luiz Felippe de Moraes Neto, apresentou um projeto para a ciclovia, novamente na Câmara Municipal, em reunião da Frente Parlamentar em Defesa da Mobilidade Humana. Infelizmente o projeto não foi aprovado pela CET, por falta de qualidade técnica.

A recusa levou o subprefeito a buscar uma solução alternativa pra conseguir iniciar logo as obras – o que veio a ocorrer em dezembro de 2013, com a implementação de um primeiro trecho da ciclovia, ainda sem sinalização (saiba mais).

Em junho de 2014, esse trecho inicial foi finalmente sinalizado pela CET, com a promessa de levar a ciclovia até o Taboão ainda esse ano. Seguiremos acompanhando.

 

FONTE: Vá de Bike

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