O transporte do futuro?
Texto: Carolina Baliviera
Rápidas e sustentáveis, as bicicletas conquistam cada vez mais espaço no concorrido trânsito das cidades brasileiras
A história do analista de sistemas Willian Cruz com a bicicleta é antiga – desde criança pedalar sempre fez parte de seus momentos de lazer. Mas foi só quando seu carro quebrou, em 2003, que ele começou a ver a bike como meio de transporte. “Percebi que fazia o meu trajeto em muito menos tempo e sem o estresse de ficar parado no trânsito”, conta. De lá pra cá, William tomou gosto pelo cicloativismo e criou o Vá de Bike, site em que dá dicas para quem está começando a pedalar pelas ruas da cidade.
Aline Cavalcante teve uma experiência parecida. Há quatro anos, quando saiu de Aracaju para morar em São Paulo, resolveu deixar o carro para trás, e não se arrepende. “A bicicleta me fez conhecer a cidade de verdade. Andar na rua faz a gente entender melhor a dinâmica dos lugares e conhecer suas qualidades e também seus problemas”, diz a jornalista, que percorre, em média, 12 quilômetros diariamente.
Willian e Aline fazem parte de um movimento que vem crescendo nas grandes cidades brasileiras nos últimos anos. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Metrô de São Paulo, o número de deslocamentos diários por bicicleta na região metropolitana saltou de 162 mil, em 1997, para mais de 305 mil em 2007 – um aumento de 87%. Outro estudo, da Associação Nacional de Transportes Públicos, também aponta um crescimento em todo o país – de 2003 a 2010, o número de deslocamentos em bicicleta teve uma variação de 58%, atingindo o número de 1,9 bilhão de viagens por ano.
E se engana quem pensa que os benefícios ao meio ambiente e à saúde são os únicos motivos para sair de casa pedalando. Além do baixo custo, um trajeto feito em bicicleta também pode reverter em economia de tempo. Estudos da Comissão Europeia revelam que, para distâncias de até oito quilômetros, a bicicleta é mais rápida que outros meios de transportes. Em um congestionamento, enquanto um carro se desloca numa média de 5 a 10 km/h, a bicicleta atinge uma velocidade média de 15 km/h.
Outro índice, desenvolvido por uma consultoria especializada em planejamento ciclístico, ranqueou as vinte metrópoles mundiais mais amigáveis para se andar de bicicleta (veja abaixo). Foram levados em conta critérios como infraestrutura, facilidades (bicicletários e rampas), ativismo e planejamento urbano. Nas primeiras posições, aparecem Amsterdã, Copenhague e Barcelona, cidades reconhecidas pela ótima infraestrutura para o ciclismo. O Rio de Janeiro é o único representante brasileiro na lista e ocupa o 18o lugar – à frente de Viena e Nova York.
No último ano, a capital carioca investiu no aumento da malha cicloviária – atualmente, com 250 quilômetros – e no projeto Bike Rio, um sistema de bicicletas de aluguel semelhante aos modelos já consolidados em Paris, Montreal e Barcelona. “Mas o Rio ainda tem muito o que melhorar nesse setor”, avalia Fernando Mac Dowell, engenheiro de transportes da UFRJ. Segundo Mac Dowell, a orla e o relevo plano da cidade estimulam o uso de bicicleta, mas as rotas ainda estão concentradas em apenas alguns pontos da zona sul carioca.
A falta de infraestrutura dedicada às bicicletas também é um problema em outras grandes cidades brasileiras. Recife, Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba contam com apenas 20, 34, 47 e 120 quilômetros cobertos por ciclofaixas e ciclovias, respectivamente. Os números ainda são inexpressivos se comparados com a estrutura de cidades como Amsterdã (400 km), Berlim (650 km), Copenhague (350 km) e até mesmo Bogotá, que tem uma rede de 340 quilômetros, a maior da América Latina.
Mac Dowell, no entanto, ressalta que não adianta querer aumentar a malha cicloviária a qualquer custo. “Oferecer condições para o tráfego de bicicletas não se resume a pintar faixas na beirada das ruas. Há normas técnicas de segurança para construção de ciclovias – elas devem ter um entorno seguro e estar interligadas a outras vias e também outros meios de transportes”, alerta o engenheiro.
O desrespeito pelos ciclistas também é uma barreira para o aumento do número de adeptos desse tipo de transporte. “Cada vez mais, o trânsito é um lugar de disputa. E, nessa luta pelo compartilhamento da rua, quem usa bicicleta acaba saindo prejudicado”, afirma Thiago Benicchio, diretor da associação Ciclocidade. Segundo ele, mesmo sem a construção de ciclovias, seria possível adotar medidas pró-bike, como a redução de velocidade em áreas residenciais, o aumento de placas de sinalização e campanhas de conscientização da população. “A bicicleta precisa ser encarada como qualquer outro veículo. Uma cidade ideal é aquela que dá opções para escolher o transporte mais adequado a cada um,” conclui Benicchio.
AS CIDADES MAIS BIKE-FRIENDLY DO MUNDO
1o lugar: Amsterdã – Holanda
2o lugar: Copenhague – Dinamarca
3o lugar: Barcelona – Espanha
4o lugar: Tóquio – Japão
5o lugar: Berlim – Alemanha
6o lugar: Munique – Alemanha
7o lugar: Paris – França
8o lugar: Montreal – Canadá
9o lugar: Dublin – Irlanda
10o lugar: Budapeste – Hungria
18o lugar: Rio de Janeiro – Brasil
Fonte: The Copenhagenize Index 2011