ciclocidade

Protesto em duas rodas

 

LETÍCIA MORI E VANESSA CORREA

 

Um dos grupos mais articulados da cidade, os cicloativistas se organizam rápido, mas ainda não alcançam a periferia

 

Poucas horas após o atropelamento do ciclista e limpador de vidros David Santos Sousa, 21, que teve o braço arrancado ao ser atingido por um carro na manhã do domingo passado, manifestantes já se reuniam em frente ao 78º DP, nos Jardins, zona oeste, onde o motorista do automóvel, o estudante de psicologia Alex Siwek, 21, prestava depoimento.

 

Horas depois, os ciclistas já tinham reunido cerca de 150 pessoas num protesto na av. Paulista, local do atropelamento. Na noite anterior, a mesma avenida havia sido palco de uma pedalada em que 200 ciclistas (alguns consumindo bebida alcoólica) ficaram nus pela segurança no trânsito.

 

Embora uma parte do público fosse a mesma nos dois eventos, os grupos revelam os tipos de ciclistas que a cidade abriga: aqueles que usam a “bike” como meio de transporte ou para lazer e os ativistas, que estão em constante luta por espaço e são vistos nos protestos.

 

Entre os cicloativistas, a organização horizontal, sem hierarquia, permite a rápida reação a acidentes. Na manhã de domingo, a jornalista Aline Cavalcante, 27, que havia participado da pedalada da noite anterior, foi acordada por amigos com a notícia.

 

Por telefone, combinou o protesto na Paulista e foi para a delegacia, onde já estavam a designer Renata A. Winkler, 48, e a jornalista Renata Falzoni, 59. Enquanto isso, a organização corria no Facebook e no Twitter.

 

A mesma operação por meio de redes sociais foi feita em março passado, quando a ciclista Juliana Dias, 33, morreu atropelada por um ônibus na Paulista. Winkler, Falzoni e Cavalcante também estiveram naquele protesto.

 

Falzoni, que pedala há 38 anos, é uma das paulistanas que há mais tempo levantam a bandeira da “bike”. Nos últimos anos, viu o movimento crescer e presenciou conquistas como as ciclo-faixas. Agora, aguarda promessas.

 

O prefeito Fernando Haddad (PT) comprometeu-se a estabelecer uma rede cicloviária para oferecer mais segurança a quem pedala. Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o número de mortes de ciclistas cresceu 6% em 2012. A companhia estuda se a Paulista pode ter o limite de velocidade reduzido ou ganhar uma faixa exclusiva para as “bikes”.

 

A instituição planeja, ainda, oferecer cursos para ensinar ciclistas a circular com segurança pela cidade.

 

Alcance limitado

A maior parte das manifestações ocorre como reação a acidentes no centro expandido, como o caso de Márcia Regina de Andrade Prado, 40, que morreu atropelada por um ônibus na av. Paulista em 2009. Mas a maioria das mortes ocorre na periferia.

 

Os principais cicloativistas são da zona oeste. Embora haja exceções, como o estudante Pedro Cruz de Souza, 16, que vem da zona norte para os protestos, eles conseguem se reunir rápido por estarem perto do centro.

 

O consultor em mobilidade André Pasqualini, 38, do Instituto CicloBr, nega que o movimento seja localizado. “Quando tem morte de ciclista em Itaquera vão menos pessoas, mas quem é ativo vai sempre. Fomos quando morreu um gari em Socorro, na zona sul.” Daniel Guth, 29, concorda. “Queremos mudanças para a cidade toda, mas a visibilidade que a Paulista dá é enorme.”

 

Aline argumenta que as dimensões da cidade impedem os ativistas do centro de irem sempre à periferia, mas ressalta que, embora as manifestações ocorram no centro, as reivindicações pela “bike” abrangem a cidade inteira.

 

Em 2012, a ONG Ciclocidade entregou uma carta a candidatos a vereador e a prefeito com as principais bandeiras do movimento. Segundo um dos fundadores da entidade, o jornalista Thiago Benicchio, 33, elas tratam de incluir a bicicleta no sistema viário.

 

Outra entidade que faz a ponte com o poder público é o CicloBr. Um dos seus desafios é estabelecer consensos, como em relação ao Código Brasileiro de Trânsito. Alguns ciclistas defendem que passar o sinal vermelho para pegar velocidade à frente dos carros é questão de sobrevivência. Já outros são a favor das regras também para as “bikes”.

 

(COLABOROU ELVIS PEREIRA)

 

 

FONTE

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