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Qual o balanço das ciclovias em São Paulo?

Giuliana Pompeu

Na manhã dessa quarta-feira (29), uma Audiência Pública sobre o Balanço das Ciclovias em São Paulo foi presidida pelo Vereador Ricardo Young (PPS). Dentre os temas abordados, além das ordinárias questões sempre debatidas, alguns pontos podem ser destacados ou até mesmo recolocados.

Edu Cole

Há anos muita gente pedala em São Paulo

O primeiro a ter a palavra, logo após as considerações iniciais, foi o cicloativista, integrante da Ciclocidade, Daniel Guth. Em sua fala, Guth insistiu em deixar claro que as ciclovias devem ser, e são, uma política pública e que partidarizá-las é atrasar uma demanda justa e necessária.

Após o término de sua exposição, o Vereador Toninho Paiva (PR) fez um comentário a respeito do entusiasmo do cicloativista, completando que o achava admirável e importante, mas que naquele momento era preciso analisar as questões referentes a implantação das estruturas cicloviárias na capital paulista.

Em resposta, Guth deixou claro que tal entusiasmo era realmente importante e algo natural, que em momento algum desmerecia sua fala ou de qualquer outro defensor da mobilidade por bicicleta. Afinal de contas, pedalamos e sabemos mais do que ninguém a importância para nossa sobrevivência das estruturas segregadas na cidade.

Em seguida foi a vez da CET se pronunciar, representada pelo Ronaldo Tonobohn, a Companhia de Tráfego teve pouquíssimo tempo, exatos sete minutos, para defender uma política ainda em implantação que apesar das nítidas melhoras na vida dos ciclistas, ainda é constantemente questionada por aqueles que enxergam o carro como maior e mais importante meio de transporte.

Um material em Power Point mostrou algumas fotos do antes e depois das ruas que agora são cortadas pelas faixas vermelhas (é claro que as ciclovias trouxeram mais vida a tais vias), além de imagens das ciclovias, tanto com a necessidade de alguns ajustes, como as lisas e muito bonitas. O legal foi que o próprio Tonobohn admitiu que algumas coisas precisam ser adequadas, mas reforçou que não são motivo para condenar as estruturas, o objetivo mais importante de segurança do ciclistas está sendo alcançado.

Em tom de brincadeira, Ronaldo Tonobohn terminou sua fala mostrando algumas fotos de falhas nas ciclovias de outros lugares do mundo, e ironizou: “Ops, essas não são as nossas!”.

De volta ao microfone, o Vereador Toninho Paiva levantou uma questão importante: “..e a educação nas escolas? Ela precisa começar a acontecer.” Diferente do que disse o vereador, a cultura da bicicleta já existe sim há muitos anos em São Paulo, mas de fato essa é uma verdade, a cultura da mobilidade por bicicleta precisa estar presente, de maneira mais forte, do que a cultura do carro. As crianças infelizmente ainda estão crescendo almejando um carro como presente de dezoito anos.

Finalmente uma mulher foi a frente e disse com propriedade “Sou da geração das ciclovias, comecei a pedalar porque agora me sinto mais segura para tal”, confirmando a ideia de que as estruturas exclusivas atraem mulheres e crianças, que sem as mesmas se sentem muito em risco em pedalar pelas vias movimentadas de uma cidade.

Além da questão de gênero, Carla Moraes levantou alguns números sobre mortes em decorrência de acidentes de trânsito. Por ano, 40 ciclistas são vítimas de motoristas mal preparados, sem contar que 40 % do total de mortes no trânsito são de pedestres, os mais desprotegidos na lógica de mobilidade atual, e 80% de pessoas fora do carro, o que significa que quem está dentro do carro quase nunca morre e sim, mata.

Carla disse que um de seus pontos para começar de fato a pedalar com frequência em São Paulo, foi a questão da sustentabilidade. Ainda segundo ela, 4.600 pessoas por ano morrem em decorrência da poluição, uma taxa altíssima que escancara a necessidade de uma maior qualidade do ar na cidade, algo que a bicicleta também contribuí para melhorar.

Para finalizar, Carla trouxe a tona um número que eu particularmente jamais tinha tido conhecimento: ” São várias as concessionárias de serviços públicos que causam danos ao pavimento que acabam recaindo sobre a Prefeitura. Somente a SABESP abre, em São Paulo, cerca de 1000 valas por dia. Estima-se que 40% dos defeitos de piso em toda cidada são decorrentes da má reposição nas valas. A discussão sobre o custo decorrente já tramitou até ao Supremo e a decisão foi por não autorizar as multas como punição.”, afirmou a geóloga Carla Moraes.

Ao fim da Audiência, com a sala precisando ser entregue para outro evento, o Vereador Ricardo Young prometeu organizar mais uma Audiência Pública, pois entendia que o tema ainda não havia se esgotado (de fato, não houve tempo nem mesmo para os vereadores se pronunciarem).

As discussões do tema ainda não se esgotaram e para isso ainda vai muito tempo, o importante são tais discussões começarem a ser pautadas na efetiva necessidade da política pública de mobilidade por bicicleta. O que não da mais é ter que explicar toda vez que as ciclovias são legitimas e importantes, as questões devem ser em torno de sua melhora e não de sua necessidade de existência ou não. São Paulo pedala sim e precisa de ciclovias!

 

Fonte: Portal Bike É Legal.

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