A bicicleta e os desafios das mulheres de São Paulo
Ela vai todos os dias do Centro a Eldorado – que fica depois do Município de Diadema – e usa a bicicleta há mais de 6 anos. Esta é uma das mulheres entrevistadas pela pesquisa do GT Gênero da Ciclocidade
Desde a última segunda-feira (27/6), 14 pesquisadoras mulheres, com “as” no final, estão atuando nas 32 subprefeituras do município para realizar 320 entrevistas com mulheres ciclistas ou que tenham contato com quem usa bicicleta na cidade.
A pesquisa inédita foi idealizada e vem sendo coordenada de forma colaborativa por membras do GT Gênero da Ciclocidade. O grupo de trabalho surgiu justamente para tentar entender as razões para o baixíssimo número de mulheres pedalando na cidade, assim como as diferenças das experiências de deslocamento em relação ao público masculino.
“Um dos pontos fortes da metodologia desta pesquisa é trabalhar somente com pesquisadoras mulheres, muito diversas em suas próprias vivências na cidade. A troca que estamos realizando durante o período de campo tem aprofundado compreensões de como o patriarcado também produz marcas profundas nas formas em que experienciamos o espaço urbano. Os relatos nos dão indícios de que a bicicleta pode ser uma ferramenta de resistência ao conferir maior liberdade e autonomia às mulheres, ao mesmo tempo que demonstram como essas desiguais relações de poder ainda determinam e limitam nossos deslocamentos” comenta uma das coordenadoras, Priscila Costa.
Em abril foi realizado um período de testes em campo, que motivou a revisão do método com base no principal desafio encontrado: achar mulheres pedalando. Além disso, optou-se por mulheres entrevistando mulheres, para facilitar a aproximação e permitir que as entrevistadas pudessem ser escutadas de forma sincera, mais confortáveis para expor seus medos e anseios.
A pesquisa está sendo realizada em todas as subprefeituras do município até o dia 8 de julho. Entre as pesquisadoras estão participantes do GT Gênero da Ciclocidade, do Programa de Residência da FAUUSP/SMDU e do LabCidade, também da FAUUSP.
“Pouquíssimas mulheres pedalando, tinha que ficar de olho no quarteirão de cima e de baixo e, ao menor sinal de ciclista, montar na bike e sair correndo atrás dela. Entrevistei perfis bem diferentes. De não ciclista até uma guarda municipal participou ?. Interessante o depoimento dela ao falar que era contraditório prestar um serviço de segurança, mas se sentir insegura ao transitar na cidade por ser mulher” – depoimento de pesquisadora de campo na subprefeitura de Santana
A pesquisa busca olhar para uma direção que não é comum em trabalhos desse tipo: considerando a questão de gênero, os paradigmas socialmente construídos, a divisão sexual do trabalho e o ambiente construído como fatores importantes na adoção ou não da bicicleta por mulheres.
Com os questionários, traçaremos o perfil socioeconômico das entrevistadas; seus padrões de deslocamentos no cotidiano e seus principais destinos; as preocupações no ambiente urbano que as faz relutar para o uso deste modal, como segurança, infraestrutura e outros. O levantamento tem o objetivo de identificar as motivações e desafios das entrevistadas quanto ao uso da bicicleta como meio de transporte em São Paulo, assim como quais as barreiras sentidas por aquelas que têm alguma familiaridade com a bicicleta, mas que por algum motivo não fazem a migração.
O lançamento da pesquisa está previsto para setembro e até lá o trabalho é longo. Se você avistar uma das pesquisadoras de colete amarelo e prancheta na mão em algum lugar da cidade nas próximas semana, pare, escute o que ela tem a dizer e compartilhe conosco a sua impressão sobre pedalar em São Paulo como meio de transporte. Essas informações serão muito úteis para entendermos melhor como se dão esses deslocamentos e provocar reflexões sobre estratégias para incentivar que mais mulheres passem a andar de bicicleta.
Pedalemos!
Fotografias: Rachel Schein.