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Breve relato sobre a Ciclocidade no Velo-city 2017

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Na última sexta-feira (16) terminou o Velo-city 2017 nas cidades de Arnhem e Nijmegen, na Holanda. Foram cinco dias do maior encontro mundial sobre mobilidade por bicicletas.

Representando São Paulo estiveram presentes os diretores da Ciclocidade Daniel Guth, Leticia Lindenberg Lemos e Rene José Rodrigues Fernandes; Thiago Benicchio (gerente do ITDP Brasil e conselheiro do CMPU pela Ciclocidade); Bianca Macedo (GT Gênero da Ciclocidade); Murilo Casagrande Módolo (Instituto Aro60); JP Amaral (Bike Anjo); Renata Falzoni (Bike é Legal); Willian Cruz (Vá de Bike); e o Secretário Municipal de Mobilidade e Transportes, Sérgio Avelleda.

A delegação brasileira, ao todo, foi de 50 pessoas, de várias partes do país, que lideraram painéis, palestras, apresentações de trabalhos e reuniões paralelas.

A presença em massa do Brasil no evento vem consolidar a participação do país nas discussões mundiais sobre mobilidade urbana. Seja em mesas sobre estratégias de advocacy, no colóquio de cientistas e em pesquisas sobre uso de bicicleta, ou apresentação de casos, o Brasil tem liderado muitas discussões que, certamente, se desdobrarão com mais intensidade no próximo Velo-city, que será sediado no Rio de Janeiro em 2018.

 

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Participação direta da Ciclocidade no evento

A Ciclocidade esteve presente em vários momentos do evento. Já na segunda-feira, a diretora Letícia Lemos apresentou a pesquisa do GT Gênero no colóquio Scientists for cycling (foto acima). Na terça-feira, foi a vez do diretor Daniel Guth representar a Ciclocidade e São Paulo em um painel sobre “advocacy em diferentes países e cidades”. Na sexta-feira, Leticia Lemos participou, ainda, de um speed date (micro apresentações) sobre inclusão social, falando sobre a realidade do uso de bicicleta em São Paulo. O diretor Rene Fernandes esteve nas sessões que apresentavam as formas de mensuração e resultados do impacto econômico da bicicleta na economia – todos os anos, a União Europeia ganha mais de 513 bilhões de euros com o ciclismo.

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Dados e informações publicizadas pela Ciclocidade também foram citados ao longo do evento em diversos painéis e palestras. Clarisse Linke, do ITDP Brasil, citou as contagens de ciclistas da Ciclocidade e a divisão de gênero da mobilidade por bicicletas em sua brilhante palestra sobre o tema, que teve como base a pesquisa do GT Gênero da Ciclocidade (foto acima). Gabriela Binatti, da Transporte Ativo, também citou os dados da pesquisa de perfil de quem usa bicicleta em São Paulo no painel sobre o assunto. Guilherme Tampieri, da União de Ciclistas do Brasil, citou a participação da Ciclocidade e de São Paulo durante a campanha Bicicleta nas Eleições (2014 e 2016).

Para a Ciclocidade, é motivo de orgulho ver como suas ações reverberam positivamente mundo afora e também são apropriadas por outras organizações, ajudando em narrativas que visam a construção de cidades mais inclusivas e amigas da bicicleta. A publicação integral de nossas pesquisas online, inclusive com os dados brutos abertos, tem papel importante nisto e é uma política que a Ciclocidade continuará a manter.

 

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Amsterdam, Utrecht, Nijmegen e as políticas cicloviárias holandesas

Pedalar pelas ruas, avenidas e, principalmente, pelas redes cicloviárias das cidades holandesas é sentir cada milímetro de políticas públicas pensadas para quem está em cima da bicicleta. São mais de 20 mil quilômetros de redes cicloviárias conectadas, amplas, bem sinalizadas, com “onda verde”, manutenção impecável, arborizadas, com a presença de crianças e idosos pedalando. Das redes nos grandes centros como Amsterdam e Utrecht, até as cycle highways (rodovias para ciclistas), não é à toa que na maioria das cidades holandesas mais da metade da população escolheu a bicicleta como seu principal meio de transporte.

Em Amsterdam, pudemos pedalar, fazer visitas técnicas e ainda conversar com membros da Fitsersbond Amsterdam, que desde a década de 1970 se consolidou como a principal organização de advocacy pelo uso de bicicleta. Em Utrecht conhecemos os maiores bicicletários do mundo, alguns com mais de 12 mil vagas. Integração plena da bicicleta com o trem, uma temática muito debatida durante o Velocity, especialmente como solução para regiões metropolitanas e conexão entre cidades.

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Entre Nijmegen e Arnhem, cidades que sediaram o Velo-city, conhecemos a Rijnwaalpad, uma rodovia somente para bicicletas, com iluminação durante todo o percurso e pontes e túneis especialmente projetados para o trânsito de ciclistas. Neste vídeo é possível conhecer um pouco sobre esta ciclo-rodovia que visitamos.

Nem tudo é perfeito, evidentemente. A priorização ao deslocamento de ciclistas muitas vezes é feita em detrimento de estrutura para quem se locomove a pé. Em muitos locais, especialmente em Amsterdam, é comum pedalar por ruas onde há espaço dedicado para ciclistas, mas não há calçadas. Ciclistas são comumente agressivos com pedestres.

O poder público holandês, ainda, começa a estudar a implementação de espaços de auto-regulação das pessoas na via pública – primeiras experiências de vias sem nenhuma sinalização viária estão acontecendo por lá.

São propostas e discussões interessantes para um cenário em que a violência do trânsito motorizado já está controlada há muitos anos. Mas que isto se deu por força de políticas públicas, com uma melhor distribuição do espaço viário. Para incluir ciclistas, pedestres, bondes, ônibus e espaços públicos de passagem e convivência foi necessário tirar espaço usualmente ocupado por automóveis, em circulação ou estacionados (isto se deu, com intensidade, ao longo dos anos 60 e 70), leis mais rígidas para crimes de trânsito, fiscalização para mudança comportamental e participação e controle social.

 

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Velocity Rio de Janeiro (2018)

Em 2018 a cidade sede do Velo-city será o Rio de Janeiro. A Ciclocidade tem participado das reuniões de pré-organização do evento (foto acima). A proposta é que seja um Velo-city sul-americano, potencializando a participação dos países e das cidades do hemisfério sul, tropicalizando as discussões, ainda bastante centradas na visão européia.

 

Constrangimento durante a cerimônia de encerramento

Parte da cerimônia de encerramento do Velo-city, em Nijmegen, causou constrangimento em toda delegação brasileira. Um show com samba, capoeira e mulheres vestidas com trajes carnavalescos – com forte apelo sexual -, foi encomendado e organizado pela prefeitura de Nijmegen como um “presente” ao Velo-city Brasil do ano seguinte. Expondo mulheres de forma sexista, essa ação apenas reforça uma imagem que precisamos desconstruir, e conflita com a participação tão intensa e de qualidade da delegação brasileira durante o evento, especialmente das mulheres.

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