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Ciclocidade lança Tableau da Pesquisa Origem Destino 2017

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Importante para o planejamento da mobilidade urbana, a Pesquisa Origem Destino da Região Metropolitana de São Paulo teve sua metodologia consolidada ao longo de 50 anos pelo Metrô de São Paulo. A visualização publicada se refere à versão mais recente, a chamada “Pesquisa OD 2017”, cujos microdados foram publicados em 2018.

Este trabalho tem o objetivo de facilitar o acesso a uma base de dados complexa, que requer experiência para ser manuseada. Ao transpô-la para uma plataforma de visualização interativa como o Tableau Public, nossa intenção é que as mais diversas pessoas, organizações e mesmo órgãos públicos possam extrair as informações que precisam de forma ágil e online, sem ter de recorrer sempre a programas mais pesados e complexos.

Sobre a Pesquisa Origem Destino

A Pesquisa Origem Destino (OD) é uma pesquisa de padrão de viagens. Seu objetivo é registrar onde, como e porque as pessoas se deslocam em uma determinada região.

O Metrô de São Paulo é responsável pela pesquisa da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e a realiza a cada 10 anos, desde 1967. Assim, a atualização de 2017 consolidou 50 anos de experiência com este tipo de pesquisa.

A descrição completa da metodologia e os dados disponíveis podem ser encontrados no link http://www.metro.sp.gov.br/pesquisa-od/index.aspx

Consolidamos aqui conceitos que você precisa saber para usar a visualização dos dados que a Ciclocidade e a Multiplicidade fizeram da Pesquisa OD 2017 no Tableau. Vamos lá!

A Pesquisa OD da RMSP é dividida em Pesquisa Domiciliar e Pesquisa da Linha de Contorno. Na visualização online nos focamos apenas na Pesquisa Domiciliar.

A Pesquisa Domiciliar tem este nome porque a amostragem é feita a partir de um sorteio que escolhe as casas que receberão os pesquisadores e porque o foco do levantamento são as viagens das pessoas que nela residem. Domicílios contêm famílias que contêm pessoas, que por sua vez realizam ou não viagens.

De forma geral, todas as pessoas de uma mesma família respondem ao questionário. As perguntas levantam os deslocamentos feitos no dia útil anterior, registrando zona de origem e zona de destino, motivo, modos de transportes utilizados, horários de saída e chegada

A Zona OD é a unidade territorial para qual é feito o sorteio de domicílios. O tamanho de cada zona varia com o interesse de estudos para a expansão da rede de trilhos do Metrô, além de contemplar estudos históricos e limites administrativos dos municípios da região metropolitana, seus distritos e setores censitários do IBGE. A Pesquisa OD 2017 teve 517 zonas. Na região central do município de São Paulo, as zonas tendem a ser menores, enquanto regiões mais distantes do centro ou outros municípios tendem a ter limites maiores.

Apesar do tamanho territorial variar entre as zonas OD, o tamanho da amostra de domicílios tem pouca variação entre elas e depende da estratificação por renda e da confiabilidade estatística da pesquisa. Isto significa que o número de domicílios participantes é definido antes da aplicação dos questionários e que a amostra de domicílios independe das características das viagens pesquisadas

Assim, para casos pouco frequentes, como as viagens de bicicleta, pode acontecer de uma zona OD não ter nenhuma viagem registrada. Isto não significa que não há viagens de bicicleta naquela zona OD. Significa apenas que nenhuma pessoa que fez viagens de bicicleta no dia útil anterior à pesquisa foi sorteada para ser entrevistada. Em Engenharia de Transportes, esta questão é contornada fazendo-se modelagem de matrizes, o que está fora do escopo deste trabalho. 

Viagens e motivos das viagens

A viagem é um deslocamento com motivo. Não existem viagens registradas sem motivo, e também não são registrados deslocamentos realizados no decorrer de uma atividade. As viagens registradas Trabalho-Trabalho indicam que a pessoa tem dois trabalhos distintos. Assim, deslocamentos realizados por vendedores, motoristas de aplicativos ou para reuniões de trabalho não são registrados. São sim registradas as viagens destas pessoas da residência até ao primeiro local de trabalho do dia, e a viagem de volta ao final do dia. 

Aqui chegamos a um detalhe muito importante da pesquisa: as viagens com motivo residência. Quase metade das viagens da pesquisa são de retorno para residência, o que gera alguns problemas de interpretação, pois fica parecendo que os demais motivos respondem por percentuais menores.

Por esta razão, optamos por deixar o motivo residência desabilitado do filtro inicial na visualização online. É possível habilitá-lo (veja como na aba “Tutorial” da visualização), o que é especialmente útil para avaliar viagens ao final do dia. 

O local de residência tem grande impacto na mobilidade das pessoas e suscita discussões sobre as desigualdades urbanas. Tradicionalmente na área de Engenharia de Transportes, esta questão é contornada transformando as viagens pesquisas em viagens produzidas e viagens atraídas, mas deixamos estes conceitos fora do escopo deste trabalho.  

Existem pessoas que não fazem uma viagem sequer no dia. Mas sabemos que seu registro é importante, porque não se deslocar pode indicar limitações na mobilidade das pessoas. Para saber o perfil destas pessoas, na aba Pessoas, selecione os não viajantes.  Na aba Viagens, esta é a razão de existir campos nulos para os filtros no campo superior esquerdo.

Modos de transporte

Vamos aos modos de transporte. São registrados até quatro modos de transporte por viagem, mas há uma hierarquia entre eles, o que leva a um único modo principal da viagem. Esta hierarquia é definida pelo Metrô, e de forma geral segue a ordem transporte sobre trilhos, transporte coletivo sobre pneus, transporte individual, bicicleta e a pé. 

Por exemplo, uma viagem realizada por ônibus-metrô-ônibus tem modo principal “metrô”. É importante frisar que isto independe do tempo gasto em cada modo. Outro exemplo: a pessoa pedala 30 minutos até uma estação de trem, deixa a bicicleta no bicicletário e pega o trem por 20 minutos. Esta viagem terá modo principal “trem”.

Nas abas Mapa e Pessoas mostramos os dados por modo principal. Nas abas Viagens, Viagens Bicicleta e Viagens a Pé realizamos também tabulação da intermodalidade. Para obter um perfil de viagens a partir de modos que não entraram como principal (a viagem realizada por ônibus ou pela bicicleta, nos exemplos acima), use o campo “Intermodalidade” da aba de “Viagens”. Há informações detalhadas de como fazer isso na aba “Tutorial”.

A mobilidade a pé merece atenção especial. A hierarquia do modo principal tem como consequência que uma viagem só teria modo principal “a pé” se fosse exclusivamente a pé, pois qualquer combinação do modo a pé com outros modos resultaria em outros modos principais. Além disso, a mobilidade a pé “comeria” pelo menos dois dos quatro campos disponíveis para registro dos modos, já que a imensa maioria das viagens tem caminhadas na origem e no destino. 

Sendo assim, o modo a pé não é efetivamente um modo registrado em combinação com os demais modos. O que acontece é que para todas as viagens são anotados os tempos andando na origem e no destino. Na aba Viagens a pé, usamos os tempos andando para fazer análises de intermodalidade com o modo a pé. Vale ainda destacar que não são registrados os tempos andando para fazer transferências entre modos de transporte.

Assim, são registradas como viagens a pé realizadas exclusivamente a pé. E, por questões da grande quantidade de viagens curtas a pé, são registradas apenas as viagens com mais de 500 metros, exceto se forem com motivo trabalho ou escola.

O modo principal é agregado por tipo da viagem: coletivo, individual, a pé e bicicleta. Esta variável é bastante útil para fazer comparações do padrão de mobilidade, e a chamamos de “divisão modal” na visualização online do Tableau.

Para as viagens realizadas a pé ou por bicicleta, é perguntado o porquê que optou pela mobilidade ativa (“pequena distância”, “condução cara” etc). Esta pergunta é um detalhamento, e não deve ser confundida com o motivo da viagem.

Outra característica que destacamos para análise foi a servir passageiro. Esta marcação significa que a viagem de uma pessoa foi feita com o objetivo de levar outra pessoa ao destino. No caso, a pessoa que está servindo passageiro recebe o motivo da viagem do passageiro. Por exemplo, um deslocamento é realizado por um pai levar uma criança à escola. São duas viagens registradas: uma viagem para a criança com motivo escola e “não” para servir passageiro, e outra viagem para o pai com motivo escola e “sim” para servir passageiro.

Fatores de expansão

Sabendo estes conceitos, vamos aos números! Os dados mostrados no Tableau são sempre os resultados dos fatores de expansão. O fator de expansão de viagem é um número que converte as viagens da amostra em viagens realizadas pela população. Em outras palavras, é como se aquela determinada viagem representasse outras tantas, delineadas pelo fator de expansão. Na mesma linha, o fator de expansão de pessoas faz a proporção entre as pessoas entrevistadas e o total da população. Assim, uma pessoa com um fator de expansão igual a dez faz com que aquela única pessoa represente dez no universo da população.

Os fatores de expansão são calculados pelo Metrô com base nos números registrados nos sistemas de metrô, trem e ônibus municipais e intermunicipais. Os fatores de expansão de pessoa, família e domicílio são balizados por dados do IBGE para cada zona e estratificados por renda.

Para lembrar que se trata de uma pesquisa amostral, destacamos no canto superior esquerdo a quantidade de pessoas entrevistadas. Para cada filtro ou sequência de filtros aplicados na visualização online do Tableau, verifique sempre a quantidade de pessoas entrevistadas para não realizar análises com base em poucas pessoas.

Notas operacionais

O Tableau usa a base de dados disponibilizada no site do Metrô de São Paulo (disponível neste link).

Durante o momento de preparo da base de dados, nos fizemos duas alterações:

  1. Fator de expansão corrigido: A pessoa ID_PESS=031021404102 estava com dois fatores de expansão de pessoas diferentes. Após algumas estimativas, escolhemos o fator 136,268593;
  2. Havia 18.815 linhas nas quais a coluna CD_ENTRE estava marcada com o valor 1, equivalente a entrevistas “completas com viagem”, mesmo que o número total de viagens (coluna TOT_VIAG) fosse zero. Nesse caso, os valores foram atualizados para 2, equivalentes a entrevistas “completas sem viagens”

Quem fez

Este trabalho foi realizado pela Ciclocidade – Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo, com supervisão metodológica realizada pela Multiplicidade Mobilidade Urbana. Acreditamos na incidência política baseada em evidências e que informações confiáveis podem qualificar a atuação da sociedade civil.

Esperamos que tenham uma boa experiência e que esta visualização gere muitas ideias de ações em prol de cidades mais humanas e sustentáveis.

Como citar este trabalho

CICLOCIDADE – Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo, MULTIPLICIDADE MOBILIDADE URBANA. Tableau Public Pesquisa Origem Destino 2017 da Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo, 2020. Disponível em <https://public.tableau.com/profile/ciclocidade>.[inserir logos Ciclocidade e Multiplicidade]

 

 

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