Ciclocidade questiona demora, decisões e formato da ciclofaixa operacional instalada na Rua Costa Carvalho

 

Prefeitura de São Paulo implantou no final de Dezembro de 2018 uma ciclofaixa operacional em Pinheiros, Zona Oeste da capital paulista. De acordo com o texto divulgado na Rádio CBN logo após a implementação, a ciclofaixa tem 1 quilômetro e 100 metros, compreendendo a rua Costa Carvalho, bem como parte das ruas Sumidouro, Eugênio de Medeiros e Capri. Durante 60 dias, cones irão simular a via exclusiva para ciclistas com o apoio das empresas de bikes compartilhadas Tembici e Yellow – Bicicletas e Patinetes, que ainda irão auxiliar à CET em um estudo de demanda no local e devem ficar responsáveis ainda por manter a estrutura definitiva após o período de experimentação.

Gostaríamos de reforçar que trata-se de um trecho previsto e aprovado na Operação Urbana Faria Lima desde 2016, com recursos específicos reservados, audiências públicas realizadas, com ampla aprovação do projeto conceitual por ciclistas, moradores e comerciantes locais e licitação de obra com ciclovia definitiva já concluída – também no final de Dezembro de 2018.

A prefeitura diz que a medida faz parte do plano emergencial de melhoria da mobilidade na região, afetada pela interdição da Marginal Pinheiros. Apesar de entendermos a gravidade desta situação – inclusive já propusemos diversas soluções sustentáveis – e da utilidade de intervenções experimentais, a Ciclocidade questiona esta medida que, além de adiar a implantação permanente deste pequeno trecho de ciclofaixa, repassa responsabilidades para a iniciativa privada de forma pouco transparente e ignora o debate construído com os ciclistas da região. Além disso, o formato também deixa a desejar: a sinalização é deficiente inclusive nos locais mais perigosos – notoriamente os cruzamentos, incluindo três locais onde o ciclista é orientado a desmontar da bicicleta. Nota-se ainda que a implementação é pouco acompanhada de outros estímulos ao uso deste modal, tal como instalação de paraciclos públicos, faróis para ciclistas, medidas de acalmamento de tráfego, placas, orientações educacionais (ações todas que poderiam aumentar o uso e a adesão local). São melhoras simples que desejamos que sejam feitas rapidamente.

Outro ponto importante é que a região da Subprefeitura de Pinheiros recebeu em Novembro de 2018 um workshop técnico sobre prioridades locais para o Plano Cicloviário, promovido pela Prefeitura e a sua Câmara Temática de Bicicleta (CTB) do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (CMTT). Neste encontro, outros endereços desta região foram destacados de forma unânime como prioritários para receber urgentemente (até no máximo 2020) novas intervenções e melhorar a conexão da malha cicloviária, a segurança e o estímulo e promoção da bicicleta. Foram indicadas a Avenida Henrique Schaumann, a Rua Butantã e as Pontes sobre o Rio Pinheiros com conexão com a ciclovia da Marginal – que igualmente já foram aprovadas e tem recursos reservados na Operação Urbana. Também foi solicitada a duplicação das ciclovias da Faria Lima e da Berrini, ambas claramente já saturadas e com uso crescente, inclusive estimulado por parcerias atuais da Prefeitura e a entrada de novos modais de “micro mobilidade”.

Questionamos a eficiência do uso de recursos: 
Para que uma infra estrutura experimental se o formato e já instalação definitiva já foi decidida e contratada? O estudo será focado apenas na demanda presente (ignorando a demanda reprimida e a futura) deste pequeno trecho de ciclofaixa?

Consideramos ainda que existem outros locais mais prioritários, muito utilizados e inseguros. Se o objetivo é minimizar o impacto da interdição da Marginal Pinheiros faria bem mais sentido criar mais acessos para a adjacente ciclovia que beira o rio pinheiros e liberar seu uso em horário estendido, além das intervenções temporárias nas vias mais problemáticas e importantes.

Nos preocupa, ainda, a falta de transparência com os representantes de ciclistas na CTB do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito da Prefeitura. Eles trabalham lá de forma voluntária e construtiva com técnicos da CET e de outras entidades municipais. Em nenhum momento estes representantes foram consultados em relação à implantação desta infraestutura temporária, do injustificado formato encontrado em parceria com empresas e da aplicação da pesquisa, metodologia e resultados. Estes ciclistas têm o direito e dever regimental de acompanhar bem como serem consultados sobre este tipo de processo.

Por fim, ressaltamos que até o momento esta é a única construção de nova infraestrutura cicloviária na cidade de SP feita nos últimos 2 anos – apesar das demandas na cidade toda (sobretudo em regiões periféricas) e da meta ambiciosa no Programa de Metas desta gestão de criar conexões que aumentem a conectividade de 64% para 90%. E mais grave: é notória a falta de manutenção da grande maioria das ciclovias e ciclofaixas existentes, das quais muitas se encontram em estado crítico (sobretudo em regiões periféricas), as formas questionáveis encontradas para adiar a instalação de outras estruturas já aprovadas, bem como o claro descompasso com o diálogo construtivo liderado por nós, ciclistas, no espaço de discussão oficial da Câmara Temática de Bicicleta.

 

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