Relato sobre a 3ª Reunião de Planejamento aberto da Ciclocidade para os anos de 2017-2018
A 3ª Reunião de Planejamento da Ciclocidade aconteceu no último dia 6/5 e contou com a participação de 20 pessoas. Tendo como base os alinhamentos realizados nos dois primeiros encontros (links aqui e aqui), focou-se nas principais ações que devemos tomar ao longo do próximo ano (meses de 2017 e primeiro semestre de 2018).
A ciclista Gabriela Vuolo mais uma vez facilitou o planejamento para que pudéssemos extrair o máximo do tempo de quem estava ali. Aproveitamos para agradecer mais uma vez a ela por todo apoio!
Em um primeiro momento, as pessoas foram divididas em grupos para pensar quais os principais objetivos internos (relacionados à instituição) e externos executáveis até maio de 2018. O desafio era listar apenas um objetivo principal por grupo, deixando de lado compromissos já definidos pela Ciclocidade.
Uma vez apresentadas à roda as propostas, as pessoas se dividiram em novos grupos para discutir ações específicas aos objetivos listados, tendo por base em qual tema gostariam de contribuir mais.
Como objetivos internos, as grandes demandas se relacionaram a aumentar a participação efetiva de associadas e associados nas atividades da entidade e a estruturar a área de pesquisa, que tem crescido em importância dentro da associação, para que possa desenvolver projetos dentro de uma visão de médio/longo prazo.
Já para os objetivos externos, o que queremos até maio de 2018 é construir e trabalhar para que seja executado um plano de ação de melhorias e ampliação do sistema cicloviário, com base nos marcos legais existentes. No entanto, diante de uma gestão municipal de agenda no mínimo dúbia com relação à mobilidade por bicicletas, tal objetivo passa, necessariamente, pela construção de garantias de que não haja retrocessos na política cicloviária e nas instâncias de participação social.
O que segue abaixo é uma sistematização coletiva dos objetivos e ações listados, que serão confirmados na próxima Reunião Geral da Ciclocidade, prevista para o dia 24/5, e dispostos em um calendário de execução da associação. Ali, também revisaremos a composição de novos Grupos de Trabalho e/ou manutenção dos GTs atuais.
Objetivos internos
Primeiro objetivo – Aumentar a participação efetiva de associadas e associados
Com relação a associadas e associados, há uma preocupação crescente em aumentar a participação efetiva dentro dos espaços institucionais da Ciclocidade, tais como reuniões gerais, plenárias, grupos de trabalho etc. Como metas possíveis, o grupo avaliou que seria interessante engajar metade de associadxs em pelo menos uma atividade da associação no próximo ano e criar um sistema organizado de mobilização de ciclistas, sendo que esta última meta deveria envolver pelo menos 1.000 ciclistas mulheres e homens (com paridade de gênero) das 5 macroáreas (regiões) de São Paulo.
Ações possíveis para alcançar esta meta seriam:
- Cumprir com rigor o calendário de reuniões gerais e ampliar as facilidade para mães e pais com crianças para estas reuniões
- Avaliar a possibilidade de transmissão online (streaming) das Reuniões Gerais e das reuniões que a Ciclocidade participa com o Poder Público
- Criar sistema de mentoria para acolher pessoas que querem se envolver mais nos espaços institucionais
- Criar um material de “Boas Vindas” para novas associadas e associados (ver abaixo)
- Reunir dados sobre a frequência de participação dos espaços institucionais nos últimos 12 meses
- Criar calendário de eventos
- Participar e/ou promover Festivais / Eventos / Festas, como exposição de fotos/artes em bairros da periferia e outros, cervejadas
- Organizar palestras
- Organizar um evento grande / emblemático para discussão da bicicleta, como foi o Bicicultura 2016, mas em escala local em vez de nacional
- “Adote um ciclista” – Criar grupos de associadas/associados regionais para quem se associar, com ligação com os coletivos regionais já existentes na cidade (Bike Zona Leste, Bike Zona Sul, Bike Zona Oeste, Ciclo ZN, dentre outros)
- “Guardiões da peteca” – grupo de pessoas que entram em cena com ações pontuais para motivar/engajar em momentos de “baixa”
Detalhamento de material de “Boas Vindas” a ser criado para quem se associa
Para que novas associadas, associados e visitantes das reuniões não se sintam fora de contexto e possam adquirir mais conhecimento sobre o ativismo da bicicleta e a Ciclocidade em pouco tempo, devem receber um kit com:
Folder e página 100% dedicada no site da Ciclocidade, contendo:
- Manifesto
- Contatos da Diretoria, Diretoria expandida e coordenadores de Grupos de Trabalho
- Contatos de pessoas envolvidas com a “mentoria” de recém-chegades
- Calendário anual da Ciclocidade, contendo reuniões de comitês, câmaras e eventos com da Prefeitura, além de eventos relacionados ao ativismo e à cultura da bicicleta urbana
- Link do site (que já possui muita informação) e demais redes Ciclocidade
- Links para textos de primeira leitura sobre o ativismo da bicicleta
- Link para Glossário
- Links para grupos e comunidades online: Bike Zona Leste, Bike Zona Sul, Bike Zona Oeste, Ciclo ZN, BicicletadaSP, dentre outros.
- Brindes como adesivos (2 ou mais) e apito com fita da Ciclocidade para pendurar no pescoço
Segundo objetivo – Estruturar a área de pesquisa com projeto de financiamento próprio
A área de Pesquisa tem crescido dentro da associação, com as recentes pesquisas “Perfil de quem usa a bicicleta na cidade de São Paulo” (2015), “Mobilidade por Bicicleta e os Desafios das Mulheres de São Paulo” (2016) e “Grupos de Pedal na Grande São Paulo” (2016). Seria interessante estruturar a área de pesquisa com projeto de financiamento próprio de modo a pensar em um planejamento de médio/longo prazo, para que os estudos possam contribuir cada vez mais para as atividades de defesa da mobilidade por bicicletas (advocacy) da associação.
Para isso, devem ser feitas as seguintes ações:
- Concluir as pesquisas pendentes e já previstas: finalizar relatório pesquisa do GT Gênero, finalizar relatório pesquisa Grupos de Pedal, avaliar nova pesquisa de perfil de ciclistas a ser realizada junto com a ONG Transporte Ativo
- Definir, a partir de uma reunião com o grupo de pesquisa, escopo das pesquisas dos próximos 3-4 anos, incluindo perspectivas de financiamento. Esta reunião deve ser feita em conjunto com quem faz o Advocacy, para que a pesquisa seja parte do insumo para o advocacy e não esteja desvinculada dele – temas prioritários devem ser definidos a partir do contexto de atualização da Ciclocidade/advocacy
- “O uso da bicicleta no bairro” pode ser uma das pesquisas possíveis para os próximos anos – como a bicicleta é usada em determinados bairros e como entender a infraestrutura cicloviária dentro desses bairros para que os costumes locais sejam preservados ao implantar uma ciclovia/reagir a uma implantação
- Mapeamento e contato com financiadores para possibilitar captação. Construir um planejamento da área de pesquisa a longo prazo (3-4 anos) para captação. Busca ativa e inscrição em editais/oportunidades
- Projetos de pesquisas podem ser construídos em conjunto, desde o início, com outras organizações parceiras, como grupos de mobilidade a pé. Outros exemplos de pesquisa. Bike Anjo trouxe a proposta de desenvolver uma série de mini pesquisas para desmitificar os paradigmas ou empecilhos de pedalar em São Paulo, como as máximas de que “São Paulo tem muita subida” ou “São Paulo chove muito / faz muito calor”.
Ainda dentro do objetivo de estruturar a área de Pesquisa da Ciclocidade, é preciso avaliar sua relação e interconectividade com os Grupos de Trabalho:
- GT Contagens – é preciso trabalhar a autonomia do GT Contagens, reestruturá-lo. As contagens devem ser vistas dentro do escopo do que são capazes de fazer, ou seja, são capazes de fornecer retratos pontuais sobre determinados locais e, em caso de históricos, mudanças nesses retratos. Por isso, o investimento de pessoal e esforços deve ser dimensionado – é preciso fazer um planejamento do número de contagens a ser feita ao longo do ano (realista, não idealista). Este planejamento pode levar em conta que contagens específicas podem aparecer subitamente.
- Alimentar e ser alimentada pelos temas/trabalhos dos GTs
- Planejamento e GT Metodologia – a área de pesquisa da Ciclocidade pode servir como auxiliar às demandas específicas por pesquisa, vindas dos GTs. Isso significaria que haveria um “GT Metodologia”, responsável por pensar em o que, como e onde fazer a pesquisa (estruturação/sistematização de metodologias) e em sistematizar seus resultados, mas a execução/operacionalização dessas pesquisas poderiam ficar a cargo dos GTs que as demandaram.
Objetivos externos
Primeiro objetivo – Garantir que não haja retrocessos na política cicloviária e em instâncias participativas
Diante de uma gestão no mínimo dúbia com relação à política cicloviária, garantir que não haja retrocessos é fundamental. Por retrocessos, pode-se entender (mas não limitado a): retirada e/ou falta de manutenção da infraestrutura cicloviária; dissolução ou desrespeito dos espaços de participação, tais como os conselhos participativos e câmaras temáticas; diminuição do número de bicicletas nas ruas e das estações de bicicletas compartilhadas; estímulo à partidarização e à politização do uso da bicicleta; aumento dos limites de velocidade nas ruas; e redução da fiscalização, como diminuição de multas, número de marronzinhos, radares etc.
Ações possíveis dentro deste objetivo:
- Acompanhamento e engajamento do Legislativo (bancada da bicicleta) – Fazer uma agenda de reuniões com 4 vereadores/assessores que assinaram carta de compromisso com a Mobilidade Ativa durante as eleições; fazer reuniões com vereadores mais resistentes para apresentar argumentos em favor da política cicloviária; reforçar Termo de Cooperação Técnica com a Câmara dos Vereadores; recompor/reativar/reorganizar GT de acompanhamento do Legislativo
- Reativação e ampliação da campanha Bicicleta faz bem ao Comércio de modo a desconstruir o discurso de oposição entre comércio e bicicleta (estruturas cicloviárias). A campanha poderia incluir pesquisa de opinião com comerciantes para a) entender o motivo de uma eventual resistência às ciclofaixas, b) abrir um canal de diálogo com este público e c) identificar, entre eles, os comerciantes parceiros, cujo apoio seria divulgado. Comerciantes de regiões onde há ameaça de retirada de ciclofaixas seriam o principal público-alvo neste momento.
- Produção de conhecimento e dados. Este eixo conversa diretamente com o objetivo interno de estruturação da área de Pesquisa da Ciclocidade. Possíveis pesquisas são pesquisa etnográfica; continuar contagens de ciclistas; produzir um mapa analítico colaborativo das 8 regiões sobre a infraestrutura existente para qualificar a incidência na política (mapeamento colaborativo de ciclovias); atualizar a pesquisa de perfil de ciclistas de SP; criar um fundo direcionado para pesquisas
- Estruturação do Fundo de ações locais com a verba restante do Bicicultura 2016. Este fundo pode ajudar coletivos regionais e coletivos de bicicleta a fazer mobilizações de rua/ações diretas
- Como estratégia jurídica, acompanhar a Ação Civil Pública; provocar o Ministério Público do Estado e buscar apoio institucional da Defensoria Pública
- Manter a área de Comunicação / relação com imprensa bem estruturada;
- Fazer parte de coalizões e da mobilização de organizações
- Preparar-se para uma “guerrilha burocrática”, com protocolos e documentos
Segundo objetivo – Construir e trabalhar para que seja executado um plano de ação de melhorias e ampliação do sistema cicloviário, com base nos marcos legais existentes
Por sistema cicloviário, considera-se a definição presente no Plano Diretor Estratégico (2014): “O sistema cicloviário é caracterizado por um sistema de mobilidade não motorizado e definido como o conjunto de infraestruturas necessárias para a circulação segura dos ciclistas e de ações de incentivo ao uso da bicicleta. São componentes do sistema cicloviário: ciclovias; ciclofaixas; ciclorrotas; bicicletários e demais equipamentos urbanos de suporte; sinalização cicloviária; sistema de compartilhamento de bicicletas.” Ações de incentivo ao uso da bicicleta também são abarcadas por esta definição.
Ações possíveis para este objetivo:
- Dar visibilidade aos Marcos Legais já existentes, (a) fazendo uma campanha em torno do Plano Municipal de Mobilidade (PlanMob), mostrando que já existe um planejamento para investimento em bicicleta na cidade e que deve ser cumprido; e (b) realizar outra(s) campanha(s) em torno de orçamento incluso/já existente na cidade (ex: LOA – Lei de Orçamento Anual).
- Engajar cidadãos, organizações e especialistas para propor melhorias e ampliação da rede cicloviária (existente e novas) e produzir informações sobre as condições e qualidade das estruturas que compõem a rede existente. Isso deve ser feito por meio da criação de um Mapa Colaborativo nas 8 regiões da cidade e de oficinas (workshops) nas 8 regiões para discutir as propostas que saíram do mapa colaborativo. Este mapa deve atentar para incorporar o que já foi produzido nos encontros regionais com a CET em 2015 e 2016, em especial no que se refere às prioridades de conexões cicloviárias e expansão cicloviária, tendo como foco melhorias no sistema. Produzir um documento e publicizá-lo
- Quebrar resistências baseadas na oposição entre comércio e estrutura cicloviária – Gerar e publicizar apoio do comércio local – este item dialoga diretamente com um dos eixos de ação do primeiro objetivo externo, de garantir que não haja retrocessos na política cicloviária.