Relato sobre as rodas de conversa do evento Mobilidade por Bicicleta no Mês Internacional da Mulher
No último dia 12 de março, o GT Gênero da Ciclocidade promoveu o evento Mobilidade por Bicicleta no Mês Internacional da Mulher. Com o apoio do Centro Cultural São Paulo (CCSP), a atividade foi resultado de uma organização espontânea e colaborativa, e contou com a participação de aproximadamente 25 mulheres ciclistas (cis e trans) vindas de diversas cidades brasileiras e que hoje pedalam na capital paulista. A cobertura de evento foi articulada por Rachel Schein e realizada por Thais Oewel.
Ademais de trazer à discussão temas como saúde íntima, empoderamento feminino e desafios enfrentados no uso do modal na cidade, o encontro veio reforçar a atuação do GT Gênero da Ciclocidade, que tem como principais objetivos pautar questões de gênero no cicloativismo, estimular políticas públicas mais inclusivas e incentivar o aumento do número de mulheres que usam a bicicleta como meio de transporte.
A programação contou com duas rodas de conversa, almoço colaborativo e uma oficina de silcagem de camisetas. A primeira parte das discussões colocou em pauta um tema pouco abordado em grupos de bicicleta e sobre o qual há pouca informação disponível nas mídias convencional e direcionada: as correlações entre saúde íntima feminina e o andar de bicicleta. Uma busca rápida pelo assunto na internet já evidencia como questões de gênero são pouco debatidas no mundo do ciclismo, sendo que a maioria das matérias disponíveis dizem respeito à saúde masculina.
Foi justamente a experiência compartilhada por uma das membros do GT, durante um fórum de discussão virtual, que suscitou vários dias de intensa troca de informações e compartilhamento de situações comuns a muitas pessoas do grupo. A partir daí, identificamos a necessidade de ampliar e aprofundar o debate nas diversas experiências vivenciadas por diferentes mulheres numa roda de conversa.
Durante o evento contamos com a participação de uma ginecologista, também ciclista, que veio exclusivamente de Taubaté à São Paulo para conversar e esclarecer dúvidas mais frequentes, assim como para partilhar suas próprias experiências de superação física através da bicicleta, após sua luta contra o câncer. Pudemos ouvir relatos sobre pedalar durante a gestação, e como nos fortalecemos a partir do conhecimento do nosso próprio corpo.
Também discutimos questões específicas da saúde da mulher trans, como as barreiras enfrentadas durante o pré e o pós-transição, nos desafios do atendimento nos serviços públicos e na falta de garantia de direitos previstos em lei, destacando, assim, a necessidade de uma mudança em direção ao acesso à sua saúde integral. Umas das nossas convidadas especiais, que não pôde comparecer ao evento pessoalmente, deixou sua participação em vídeo. Para finalizar, nossas convidadas cicloviajantes trouxeram seus relatos de como quebraram tabus e pré-conceitos ao viajaram de bicicleta sozinhas por diferentes partes do Brasil e do mundo, e de como conquistaram maior liberdade em lugares com os quais não tinham nenhuma familiaridade.
Temas sobre saúde, segurança, acesso à direitos básicos e entre outros, são transversais quando discutimos empoderamento feminino, e, portanto, as conversas foram fluidas e complementares, em uma única discussão que abarcou toda nossa diversidade de perspectivas, vivências e opiniões. Depois de longas horas de falas abertas e escutas acolhedoras, ficou evidente o quão transformador é nos reconhecermos umas nas outras e que essa troca de experiências é fundamental para revermos nossos privilégios enquanto diferentes mulheres que somos.
Ainda que tenhamos decidido coletivamente realizar essa discussão, num primeiro momento apenas entre mulheres, criando um espaço confortável e seguro para abordar temas sensíveis e relativos às nossas especificidades em relação ao grupo masculino, o GT entende que a ampla discussão sobre questões de gênero para garantia de equidade deva fundamentalmente incluir os homens no debate, assim como tem demostrado nossa atuação mista no grupo de trabalho e demais ações da Ciclocidade.