Relatório de Contagem de Ciclistas – Av. dos Metalúrgicos 2017
Av. dos Metalúrgicos
Segunda-feira, 23 de junho de 2016
Das 6h às 20h
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INTRODUÇÃO
A contagem de ciclistas da Av. dos Metalúrgicos, na Cidade Tiradentes (extremo da Zona Leste), realizada em parceria com o coletivo Bike Zona Leste, revelou-se uma das mais interessantes já feitas pela Ciclocidade. Primeiro, por ser a mais distante do marco zero da cidade – são 30 km até a Praça da Sé; segundo, por nos reafirmar que a cultura da mobilidade ativa é sempre viva e dinâmica, se manifestando de forma bastante particular nesta região.
O ponto escolhido para o levantamento é em frente ao terminal de ônibus Cidade Tiradentes. Mas não é em intermodalidade que a grande maioria dos ciclistas locais parece estar interessada. Diferente de praticamente todas as outras contagens, o fluxo de ciclistas é predominantemente regional, em oposição ao movimento pendular clássico de origem-destino rumo a alguma centralidade – não raro, diversas pessoas pedalavam em um sentido e reapareciam dali alguns minutos ou horas, no sentido oposto.
Colada ao terminal está a Praça Multiuso Cidade Tiradentes, com um dos pontos com Wifi Livre da Prefeitura, uma rampa de skate e uma quadra de esportes. A poucos metros dali, uma ciclofaixa se inicia e desce a Av. dos Metalúrgicos, onde, a menos de 1 km de distância e facilmente acessíveis pela infraestrutura cicloviária, há uma escola estadual (EE), uma escola municipal de ensino fundamental (EMEF), uma escola municipal de ensino fundamental e médio (EMEFM), uma escola técnica (ETEC) e uma escola municipal de educação infantil integrada a um Centro Educacional Unificado (CEU Emei). Além de inúmeros conjuntos habitacionais.
Tais características resultam em intenso fluxo de ciclistas crianças e adolescentes, boa parte circulando desacompanhada de adultos, e colocam o ponto de contagem da Cidade Tiradentes de longe como o de maior presença de jovens em bicicleta. Até então, os locais com maior proporção de ciclistas menores haviam sido a esquina da Av. Imperador com a Águia de Haia (8,3%), também na zona leste; os dois pontos da Inajar de Souza (8%), na zona norte; e Heliópolis (7,5%), na zona sul. Na Av. dos Metalúrgicos o percentual é de 22%. Tal patamar é inédito no histórico de contagens da Ciclocidade.
Também é notório o número de pessoas com idade aparente acima dos 60 anos em bicicleta (6%), evidenciando o caráter inclusivo e humanitário da ciclofaixa existente – somados, jovens e idosos chegam a 28% do total. Embora o registro de pessoas da terceira idade seja recente em nossas contagens, das quatro onde o fizemos esta também é a que apresenta o maior percentual. O segundo lugar seria a Av. Imperador com a Águia de Haia (5%).
Pudemos registrar bicicletas cargueiras (2%), skatistas (2%), cadeirantes e até cavalos na infraestrutura cicloviária. Mesmo os índices de ciclistas “fora da ciclovia” (5%), “na contramão” (7%) ou “na calçada” (8%) apontam, na verdade, para fluxos de ciclistas em busca do acesso à ciclofaixa (ver mapas mais abaixo).
Tudo isso faz desta contagem um case de direito à cidade, em uma região de parcas políticas públicas, especialmente para a população de baixa renda e de maior vulnerabilidade.
Ao final do relatório apontamos para algumas características urbanísticas e que indicam caminhos possíveis de melhoria desta infraestrutura cicloviária, já apropriada e intensamente utilizada por moradores do bairro. Melhorar a integração intermodal, requalificando o bicicletário da SPTrans e melhorado a chegada ao terminal e à Praça Multiuso Cidade Tiradentes; ampliar a oferta de ciclovias e ciclofaixas culminando em uma rede cicloviária completa para a Cidade Tiradentes; realizar a manutenção das estruturas cicloviárias; conectar com futuras ciclovias troncais, que permitam viagens em direção ao centro – não apenas entre os bairros.
Todas estas questões são urgentes para mantermos viva e ampliarmos a cultura dos modos ativos de deslocamento na periferia da Zona Leste.
Sobre o método
O método utilizado para a contagem foi desenvolvido pela Associação Transporte Ativo, do Rio de Janeiro (www.transporteativo.org.br). Trata-se de uma planilha com um desenho esquemático do ponto de contagem, com espaços a serem preenchidos com a origem e o destino do ciclista, além de informações complementares, como acessórios, faixa etária, gênero, tipo de bicicleta etc.
LOCAL DA CONTAGEM
Av. dos Metalúrgicos, em frente ao terminal de ônibus Cidade Tiradentes
RESULTADOS
NÚMERO TOTAL DE CICLISTAS: 580
Média de ciclistas por hora: 41,43
Média de ciclistas por minuto: 0,69
Número de ciclistas que passaram pelo cruzamento no período de 14 horas
Horário mais intenso de fluxo de ciclistas:
Período da tarde: de 14h às 15h, totalizando 69 ciclistas
GRÁFICOS – ORIGENS E DESTINOS
Ilustração com o total de origens e destinos dos ciclistas.
GRÁFICOS – GÊNERO E FAIXA ETÁRIA
Uma vez mais, as mulheres aparecem em baixíssima proporção em uma contagem realizada fora do centro expandido. Curiosamente, neste caso, das 17 ciclistas registradas, há uma porção razoável de crianças mulheres – pela metodologia, não é possível isolar quantas.
Conforme descrito em detalhes na Introdução, a contagem da Av. dos Metalúrgicos é a que apresenta a maior proporção de ciclistas jovens (22%) e de idade aparente acima dos 60 anos (6%), sendo estes dois dos grandes destaques deste levantamento.
GRÁFICOS – TIPOS DE BICICLETA
Há poucas bicicletas cargueiras, o que chega a ser até curioso, dado o perfil de deslocamento intra bairro constatado na contagem. A proporção de 2% demonstra que o comércio local pode ainda não ter percebido o potencial da ciclofaixa para entregas de bicicleta ou mesmo que deveria haver mais infraestrutura cicloviária para que os comerciantes passem a considerá-las como uma possibilidade.
Não houve registro de bicicletas elétricas na região, que também não é abrangida pelo sistema de bicicletas compartilhadas.
Boa parte das e dos skatistas registrados tinham como destino ou origem a Praça Multiuso Cidade Tiradentes, local onde estavam as pesquisadoras e pesquisadores desta contagem.
GRÁFICOS – MODO DE DESLOCAMENTO
A porcentagem de ciclistas “fora da ciclovia” se explica pelo desenho da estrutura cicloviária. Ao observarmos o mapa, vemos que a ciclofaixa começa de um lado da via e, duas quadras adiante do ponto de contagem, muda para o outro. Há quem prefira pedalar essas duas quadras compartilhando a via junto ao tráfego motorizado, evitando ter de fazer o zigue-zague necessário para acessá-la desde o início.
Ponto que a ciclofaixa muda de mão, duas quadras adiante do local de contagem
No caso de ciclistas “na contramão” ou “na calçada”, a grande maioria se dá por pessoas que estão contornando a avenida pela praça no trecho em frente ao terminal, seja em busca de acesso ao próprio terminal de ônibus ou à ciclofaixa. Neste trecho, de uma quadra, um canteiro e um ponto de táxi formam um tipo de ‘buffer’ de proteção e os automóveis circulam a baixas velocidades. Os três tipos de fluxo estão desenhados nas imagens a seguir.
GRÁFICOS – DADOS COMPLEMENTARES
ASPECTOS TERRITORIAIS – LOCAL DA CONTAGEM E ARREDORES
TIPO DE ESTRUTURA CICLOVIÁRIA
A ciclofaixa implantada na Avenida Metalúrgicos conecta pontos de interesse importantes da Cidade Tiradentes (Zona Leste) como o Terminal Cidade Tiradentes, de onde saem as principais linhas troncais de ônibus em direção ao centro e em direção ao terminal Guianases (estação de trem mais próxima), o CEU Irene Manke Marques, ETEC’s, EMEF’s e EMEI’s.
Apesar de ainda não existir um conjunto de ciclovias e ciclofaixas que se consolide como uma rede cicloviária da Cidade Tiradentes, a implantação existente já se mostra fundamental para quem se desloca com a própria energia, especialmente para quem vai em direção ao Terminal Cidade Tiradentes (principal fluxo verificado na contagem) – mesmo que o terminal não seja o destino final das viagens, pois muitas pessoas têm a Praça Multiuso como destino, seja para usar a quadra de futebol, a pista de skate ou para caminhar, pedalar e aproveitar o wi-fi livre.
Todo entorno do terminal de ônibus, de certa forma, é uma centralidade, pois o intenso fluxo de pessoas atrai comércios e serviços e ofertas de lazer que, inexoravelmente, atrairão viagens de todos os meios de transporte. Com a bicicleta não é diferente. Esta ciclofaixa, portanto, posiciona-se em um local estratégico, conectando terminais e passa em frente a inúmeros conjuntos habitacionais, permitindo um intenso fluxo local de ciclistas, especialmente de crianças e adolescentes desacompanhados – outro dado que surpreende desta contagem, como observado anteriormente.
Já o terminal Cidade Tiradentes conta com um bicicletário de média capacidade, implantado em local de boa visibilidade. No entanto sua entrada não é facilitada. Para acessá-lo, é necessário passar as catracas e entrar com a bicicleta no terminal, e só então ter acesso a ele. O uso por ciclistas do bairro, que não estejam fazendo a intermodalidade, não é permitido. Não há, ainda, qualquer operação ou garantia de segurança por parte da SPTrans para uso do bicicletário; apenas a disponibilização do espaço físico.
O final da ciclofaixa, ao chegar ao terminal Cidade Tiradentes, deve ser melhorado urgentemente. Um ponto de ônibus marca o final da ciclofaixa, obrigando ciclistas a compartilharem a faixa exclusiva de ônibus por alguns metros e, depois, uma antiga ciclofaixa sinaliza a calçada compartilhada até uma praça em frente ao terminal. Como a ciclofaixa é bidirecional, quem está se deslocando no sentido oposto (do terminal para o bairro) é obrigado a compartilhar a faixa exclusiva de ônibus na contramão, colocando-se à frente de ônibus e microônibus – uma situação de conflito e perigo para ciclistas.
Realização
CICLOCIDADE – Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo
www.ciclocidade.org.br
contato@ciclocidade.org.br
e
Bike Zona Leste
Coordenadora geral: Tais Balieiro
Coordenadores locais: Eduardo Magrão e Felipe Claros
Colaboradores voluntários:
Adriana Marmo
Beni Fisch
Daniel Guth
Felipe Claros
Flavio Soares
João Binotti
Leo Giovanni
Marcela Duarte
Ulisses Xavantes
Esta contagem foi feita de acordo com metodologia desenvolvida pela
Associação Transporte Ativo
www.ta.org.br