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Retrospectiva Ciclocidade 2014

Neste último domingo (2/8), durante a Assembleia Geral de 2015, aproveitamos para fazer uma retrospectiva do que aconteceu com a Ciclocidade em 2014. Embora talvez soe um pouco tarde para uma retrospectiva, sempre é bom fazer um fechamento, no qual podemos olhar para o ano passado com um pouco mais de distância e ter uma ideia de em quanta coisa estivemos envolvidos. Este relato está dividido pelas áreas temáticas de atuação da Ciclocidade: Participação em Políticas Públicas, Cultura e Formação de Ciclistas e Pesquisa.

 

Participação em Políticas Públicas

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Com a implantação da primeira metade das ciclovias, dos 400km estabelecidos como meta pela Prefeitura de São Paulo até o fim de 2015, o ano passado demandou uma atenção excepcional na questão de Participação em Políticas Públicas. E são momentos assim que definem a importância de haver uma atuação constante e coordenada com relação ao poder público: ao ver o que escapa a gestores e ao transformar essa visão em ações, podemos promover mudanças concretas na forma como a cidade se relaciona com ciclistas.

Vimos bons exemplos disso no ano passado. Ao fim de julho de 2014, o novo Plano Diretor Estratégico de São Paulo era sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT). O vídeo abaixo (clique na imagem para assistir), da nossa colaboradora Rachel Schein, resume a participação da Ciclocidade ao longo do processo. A associação frequentou audiências, leu os projetos, cobrou posicionamentos, propôs soluções e consolidou as propostas em textos já mais fáceis de serem assimilados pela equipe relatora do texto que iria para a Câmara Muncipal.

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O resultado é que, para quem anda de bicicleta, a lei pode ser considerada um grande marco, pois muda radicalmente a forma como o modal é visto pela Cidade. Ignorada no texto do Plano Diretor de 2002, ele aparece como opção real no tema da mobilidade urbana e uma das soluções a ser olhada com carinho na questão da sustentabilidade, por não emitir poluentes.

O novo Plano Diretor criava o Fundo de Desenvolvimento Urbano (Fundurb), mas não mencionava como os recursos destinados a ele seriam alocados. Isso gerou uma nova mobilização relâmpago de várias organizações ciclistas, encabeçadas pela Ciclocidade, para que 10% da verba fosse destinada à implantação do sistema cicloviário. A campanha #bikenofundurb foi lançada em 28 de maio e, apenas 6 dias depois, havia recolhido 18 mil assinaturas. Ao fim, não conseguimos os 10%, mas houve sim a destinação de 30% dos recursos do Fundurb para investimentos em transporte coletivo, sistema cicloviário e de circulação de pedestres, o que rendeu inclusive um prêmio à Cidade de São Paulo.

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A Participação em Políticas Públicas também se deu em muitas frentes. Às vezes, o viés era o de participação política. É o caso do Conselho Municipal de Transportes e Trânsito – CMTT (fevereiro), para o qual indicamos um representante do Instituto CicloBr como titular e outro da Ciclocidade como suplente; da Frente Parlamentar de Mobilidade Humana, na qual cobramos financiamento para as bicicletas (junho); das reuniões com o Prefeito Fernando Haddad (PT) e secretários de governo municipais (agosto e dezembro), onde representamos ciclistas da cidade; e das audiências públicas como a da ciclovia da Av. Paulista (novembro), da qual participamos.

Em outras ocasiões, o papel da Ciclocidade foi o de buscar informações técnicas e usá-las para elaborar propostas, muitas das quais foram levadas em consideração e incorporadas ao planejamento municipal. Nestes casos, discutimos melhorias na sinalização de ciclorrotas (foto acima) e as apresentamos à Companhia de Engenharia de Tráfego – CET (janeiro), fizemos estudos e reuniões com a Subprefeitura do Butantã e a CET para auxiliar na implantação da ciclovia da Eliseu de Almeida (junho, setembro); promovemos um debate sobre a Lei de Zoneamento, que está sendo revista, e sua relação nem sempre tão aparentes com as bicicletas (novembro), dando origem a um documento elaborado em conjunto com o LabCidade (FAU-USP) e entregue ao secretário municipal Fernando de Mello Franco (Desenvolvimento Urbano).

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E como não poderia deixar de ser, fazer campanha é preciso! A questão da travessia de pontes e viadutos foi um tema central de atuação a partir do meio do ano. Para cercá-lo, promovemos debates sobre a adaptação de pontes de viadutos para travessia de pedestres e ciclistas (junho, julho) e realizamos vistorias em várias pontes ao longo do segundo semestre com o objetivo de apresentar um dossiê à CET. Tais ações deram origem à campanha Adote uma Ponte, lançada em setembro, e que contou com um hotsite próprio, além de gerar um mapa colaborativo das pontes de São Paulo. O ápice da campanha aconteceu no Dia Mundial Sem Carro, em que esticamos duas grandes faixas nas pontes da Freguesia do Ó (foto acima) e Estaiada para chamar a atenção pública sobre o tema.

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Tudo de forma participativa. Entre reuniões, debates, palestras e audiências, algumas plenárias decidiram como a Ciclocidade se posicionaria, como a realizada no Centro Cultural São Paulo (julho) para definir um posicionamento coletivo sobre o plano de implantação dos 400km de ciclovias da Prefeitura. São ações como essas que fizeram da Ciclocidade fosse vista uma das principais referências no cicloativismo no Brasil junto com Transporte Ativo e Bike Anjo, segundo uma pesquisa realizada pelo Bike Anjo em julho.

 

Cultura e Formação de Ciclistas

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Seguindo a tradição dos anos anteriores, a Ciclocidade começou o ano promovendo o ciclodebate Ativismo urbano: bicicleta e mais além, em fevereiro de 2014. A conversa contou com a participação de Elly Blue, autora do livro Bikenomics: How Bicycling Can Save the Economy, e Mona Caron, artista plástica e ilustradora radicada em São Francisco (EUA).

Já o projeto Ciclocidade Itinerante esteve, junto com a oficina comunitária Mão na Roda, nos eventos “A Batata Precisa de Você”, em março; “Maifest”, em maio; e na inauguração do bicicletário da estação do metrô na Av. Faria Lima, em agosto.

Em meio a todas essas coisas, a Mão na Roda fez uma campanha de financiamento coletivo para a abertura de mais uma oficina, no Centro Cultural São Paulo da Rua Vergueiro. A campanha arrecadou pouco mais de R$ 5.200 e contou com uma doação de R$ 2.187 do Greenpeace, apoio em equipamentos pela Bio-Circle, Alldi Lubrificantes e Bike Tech e a participação do Ciclo Café. A oficina da Mão na Roda no CCSP é uma experiência altamente bem sucedida, tendo ampliado em 2015 a parceria para funcionar mais dias por semana.

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Em setembro, a oficina completou 4 anos de vida com três espaços abertos: um no Espaço Contraponto, outro no Centro Cultural da Juventude (Zona Norte) e o recém aberto no Centro Cultural São Paulo. Uma boa notícia viria logo em seguinda: em outubro, a iniciativa seria uma das selecionadas para o Prêmio Mobilidade Minuto, promovido pelo Instituto Cidade em Movimento. Não levamos o prêmio, mas foi muito legal ser indicado!

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Para o Mês da Mobilidade, a Ciclocidade programou várias atividades culturais, muitas delas na Zona Norte da Cidade e realizadas em parceria com o Ciclo ZN. Entre elas, estavam o Café da Manhã do Ciclista nas zonas Norte e Sul; uma Vaga Viva no Largo do Japonês (ZN); um Passeio Ciclístico saindo do Centro Cultural da Juventude (CCJ); o debate “A Bicicleta e a Periferia”, também no CCJ; e o seminário “Vida sem Carro em São Paulo”, promovido pela Associação Parque Minhocão. Como mencionamos, este foi o mês de criação da campanha “Adote uma Ponte”, então a largada para todas essas atividades foi dada pelas faixas penduradas nas pontes com os dizeres “Pontes para Pedestres e Ciclistas”.

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Para terminar o ano, o sempre parceiro Espaço Contraponto sediou mais dois encontros muito legais em novembro. O primeiro, realizado em parceria com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), foi uma palestra de Jon Orcutt sobre a história das ciclovias em Nova York. Orcutt é ex-diretor de Políticas Públicas no Departamento de Transporte de Nova York entre 2007 e 2014, tendo sido também diretor executivo da Transportation Alternatives, uma importante organização de ciclistas e pedestres da cidade. Fizemos uma longa matéria sobre esta palestra, pois a experiência de Nova York possui semelhanças muito interessantes à que estamos tendo em São Paulo com a implantação da malha cicloviária.

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O segundo encontro, realizado pela Ciclocidade em parceria com a Trek Bikes, foi um bate papo no formato perguntas-e-respostas-imediatas com ninguém menos do que com o “pai” do mountain bike, Gary Fisher. Com 64 anos, Fisher ainda pedala como um garoto e falou com naturalidade sobre os benefícios de investir na mobilidade por bicicletas. Ele aceitou ainda a proposta de participar de um encontro com o Prefeito Fernando Haddad e o Secretário de Transportes Jilmar Tatto para pedalar pelas ciclovias do centro de São Paulo, até a sede da Prefeitura.

 

Pesquisa

Em 2014, tivemos três contagens de ciclistas, todas realizadas em setembro. A da Av. Inajar de Souza, zona norte de São Paulo, apresentou números praticamente idênticos aos do ano anterior, com 1.410 ciclistas – dos quais, apenas 2% eram mulheres.

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Já a contagem da Av. Eliseu de Almeida aconteceu em um momento muito interessante. Desde 2009, ano de fundação da Ciclocidade, defendemos a implantação de uma ciclovia na região, algo que finalmente começou a acontecer em 2014. Mesmo com a estrutura parcialmente executada, registramos um aumento expressivo no número de ciclistas: de números similares registrados em 2010 e 2012 (de 561 e 580 bicicletas), o volume saltou para 888 em setembro de 2014. A porcentagem de mulheres ciclistas também registrou um aumento expressivo, saltando de 2% em 2010 para 4% em 2012 e finalmente 7% em 2014.

Do histórico de contagens realizadas pela Ciclocidade, a da Rua Vergueiro, realizada em 2014, é a segunda colocada em participação de mulheres, com 9,6%. Ela fica atrás somente da contagem feita na Av. Faria Lima, em 2013, que apresentou 12% de participação feminina. Tais dados, juntos com os da Eliseu de Almeida, demonstram a importância de vias dedicadas à bicicleta para o aumento de mulheres ciclando nas ruas.

 

Institucional

 Na parte institucional, tivemos duas grandes mudanças ao longo de 2014. A primeira delas foi a eleição de uma nova Diretoria para o Biênio 2014-2015, em março. A nova gestão, eleita de forma unânime, teve como propostas de chapa fortalecer os marcos legais e instrumentos de planejamento cicloviário para implantação de políticas com foco na mobilidade urbana e uso da bicicleta; consolidar conceitos e premissas para elaboração de Plano Cicloviário; ocupar espaços de diálogo e promover maior participação nas políticas de mobilidade; consolidar Núcleos Locais em algumas regiões da cidade, com base na experiência do Butantã, Mão na Roda Vila Madalena e Zona Norte; e ampliar o número de associados e garantir recursos para gestão institucional e de projetos.

Outra alteração foi o crescimento da parceria com o Itaú como apoiador institucional, em um segundo contrato formalizado no segundo semestre do ano. O aumento do patrocínio do banco requereu um aprimoramento na forma como a gestão é feita dentro da associação, pois o aporte de recursos aumentou significativamente. O próprio tema do financiamento de organizações sociais havia sido foco de uma Reunião Geral em junho.

Finalmente, em julho de 2014 entrou no ar a nova cara do site da Ciclocidade, que é este que temos hoje. Feito em Joomla, o site é integrado a um sistema de gestão de associações open source, o CiviCRM.

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