Motos e até cavalos invadem ciclovia do centro de SP
A ciclovia já instalada no centro da capital se transformou em uma “motofaixa” no horário de pico. Motoqueiros invadiram a faixa separada pela gestão Fernando Haddad (PT) para as bicicletas, trafegando em alta velocidade e até no que seria a “contramão” dos ciclistas.
O jornal O Estado de S. Paulo passou parte do horário de pico desta terça-feira (12), das 17h às 19h, contando quantas bicicletas já usavam a nova via exclusiva. O local escolhido foi a Avenida São João, no trecho entre a Rua General Osório e a Avenida Duque de Caxias. Nessas duas horas, passaram 43 bicicletas pelo trecho.
Entretanto, no mesmo local e período, passaram 158 motos, além de 16 carros, 8 cavalos (da Cavalaria da Polícia Militar) e até um VUC (Veículo Urbano de Carga), os minicaminhões autorizados a rodar nas vias do centro.
Ao invadir a ciclovia, que fica à direita na São João, os motociclistas, na maioria, optam por trafegar na parte à esquerda da via segregada. É justamente o sentido oposto, usado por bicicletas que vêm da Avenida Duque de Caxias em direção ao centro. Em dado momento, na tarde de ontem, ciclista e motoqueiro tiveram de frear um de frente para o outro, quase provocando um acidente.
O presidente do SindimotoSP (Sindicato dos Motoboys de São Paulo), Gilberto Almeida do Santos, o Gil, não repreende a atitude da categoria.
— O trânsito é como o fluxo da água. Flui pelos espaços em que dá. Aquela ciclovia é um espaço que ninguém usa.
“Gota d’água”
Gil diz que a ciclovia foi a gota dágua para uma série de desentendimentos entre motoboys e a Prefeitura. “Eles desativaram as duas motofaixas da cidade (nas Avenidas Vergueiro, no centro, e Sumaré, na zona oeste) e, com a ciclovia, tiraram as vagas de estacionamento para motos no centro, na Libero Badaró. Antes, já demorava uma hora para parar moto no centro. Agora, são duas horas.”
Por isso, os motoboys marcaram protesto para o próximo dia 26, quando devem seguir da sede do sindicato, próximo da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, até a Prefeitura.
Vantagens
Já o cicloativista William Cruz, do site Vá de Bike, vê a atitude dos motoboys em relação à ciclovia como algo perigoso, por causa do risco de acidentes.
— Agora, com pouca gente usando a ciclovia, ainda não é tanto. Mas depois vai ficar.
Ele diz acreditar, no entanto, que, à medida que mais ciclistas passem a ocupar a ciclovia, os motoqueiros se afastarão naturalmente.
Cruz lembra ainda que, embora o número de motoqueiros verificado na ciclovia tenha sido muito maior do que o de ciclistas, o número de ciclistas é considerável.
— Eu achei que seria menor.
O cicloativista cita uma contagem de bicicletas feita pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), em setembro de 2013, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona sul da cidade. Ali, a média verificada foi de dois ciclistas na via por minuto. Na São João, foi quase um ciclista a cada dois minutos e meio.
— Se você levar em conta que a ciclovia da Faria Lima (em canteiro central) é mais antiga do que a do centro, que ainda está sendo feita, é um resultado bastante positivo.
Para o cicloativista, com o aumento dos balizadores — pequenos postes instalados na ciclovia —, o número de motoqueiros na área exclusiva também deverá cair.
— O projeto previa um a cada 15 metros. Sei que eles estão instalados, agora, só nas esquinas, mas ainda vão aumentar.
Soluções
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) diz em nota que “vai intensificar” a fiscalização na ciclovia e que, de janeiro a junho deste ano, já foram aplicadas 10.263 multas por desrespeito às regras para ciclistas. O texto diz que as mudanças precisam ser assimiladas pelos motoristas.
FONTE: R7