Prefeito de São Paulo recebeu cicloativistas em nova reunião na Prefeitura
Da esquerda para a direita: secretário de Coordenação das Subprefeituras, Chico Macena;
prefeito Fernando Haddad; secretário de Transportes, Jilmar Tatto, secretário de Desenvolvimento Urbano,
Fernando de Mello Franco; e secretário do Verde e Meio Ambiente, Wanderley Meira do Nascimento. Foto: Willian Cruz
Willian Cruz
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, recebeu na quarta-feira 17 de dezembro um grupo de cicloativistas para mais uma reunião, em que se discutiu o andamento e os próximos passos do plano de ciclovias e de incentivo ao uso da bicicleta na cidade. Também participaram do encontro os secretários Chico Macena (Coordenação das Subprefeituras), Jilmar Tatto (Transportes), Fernando de Mello Franco (Desenvolvimento Urbano), e Wanderley Meira do Nascimento (Verde e Meio Ambiente). Estiveram presentes representantes de entidades do segmento, ciclistas representando diversas regiões da cidade e membros do Grupo de Trabalho (GT) de Bicicletas do Conselho Municipal de Transportes e Trânsito (CMTT).
Sinalização
A reunião começou com um rápido balanço por parte do prefeito sobre a estrutura implantada, a repercussão do plano de 400 km e as resistências pontuais. Com pauta bem definida e montada colaborativamente antes da reunião, os ciclistas iniciaram comentando pequenas variações na sinalização que podem ser notadas em diferentes ciclovias da cidade, pedindo sua padronização.
Suzana Nogueira, da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), respondeu que há um padrão e ele está sendo seguido, no que foi complementada pelo secretário Jilmar Tatto: “cada local da cidade tem equipes diferentes, mas o padrão é o mesmo”.
Pintura
Tatto comentou que no início foi utilizada a “tinta a frio”, o que é uma prática da CET para primeiras sinalizações. “Na medida que começa a consolidar [a implantação de ciclovias], a gente já está usando a tinta a quente, que dá mais aderência, dura mais e tem maior nitidez de cor”, afirmou. Na Praça Vilaboim, por exemplo, já foi utilizado um tipo diferente de tinta, com uma camada mais grossa. Numa segunda fase será retirada uma pequena camada do asfalto, para receber um recapeamento com pavimento asfáltico já pigmentado – veja nossa matéria sobre essa iniciativa.
Ciclovias em avenidas
Os ciclistas solicitaram que a prioridade de implantação seja em vias arteriais (grandes avenidas), que são muito utilizadas por ciclistas e também são onde estes correm maior risco. Suzana explicou que o contexto final da implantação contempla ampla conectividade, abrangendo todas as regiões da cidade, e afirmou que “as pessoas conseguirão se deslocar de uma região para outra sem problemas”.
Sobre o uso de vias arteriais, ela destacou que “o critério foi construir uma malha cicloviária que se integre” e que “em alguns casos é bastante agressivo colocar o ciclista em uma avenida com muitas faixas”, então havendo alternativa à via arterial, ela será utilizada, sempre que isso for viável. Em termos de velocidade, há uma determinação do secretário para redução do limite em todas as vias arteriais, “para o trânsito em geral se tornar muito mais harmônico”.
Ciclovia sob o Minhocão
A respeito da ciclovia que será implantada debaixo do Elevado Costa e Silva, o popular Minhocão, Haddad foi enfático em afirmar que “os moradores de rua foram todos cadastrados e alojados em hotéis” e que “ciclovias não são higienistas”, reforçando que ninguém foi retirado dali à força e que o que está sendo feito é uma “requalificação” do espaço.
A ciclovia sob o elevado terá “iluminação de túnel”, com LEDs dia e noite, “para permitir que as pessoas se apropriem daquele espaço”, segundo o prefeito. A estrutura servirá de ligação entre as ciclovias já implantadas nas regiões de Santa Cecília e Barra Funda com a rede da região central.
8 mil paraciclos
Jimar Tatto reafirmou a intenção de instalar na cidade 8 mil paraciclos (suportes para prender a bicicleta) e contou que a licitação está concluída. Os paraciclos são em formato U invertido. O prefeito fez algumas perguntas sobre segurança ao trancar a bicicleta e se o modelo do paraciclo é seguro, ao que respondemos que “depende da tranca e do local”, mas que o modelo do paraciclo em si é um dos mais indicados, além de ser o padrão já adotado pela cidade. Saiba mais aqui sobre os novos paraciclos e veja como trancar sua bicicleta de forma segura.
Semáforos para ciclistas
A CET reconhece que há pontos a melhorar na sinalização, entre eles a instalação de mais semáforos para ciclistas, e que isso está sendo equacionado. A maior parte das mudanças já está em projeto e serão implantadas em breve.
Um exemplo recente de melhoria na sinalização foi a mudança na Av. Liberdade, que noticiamos em nossa fan page. Quem utiliza várias ciclovias na cidade percebe que melhorias e adequações pontuais vêm realmente sendo feitas.
Fiscalização e multas
Os cidadãos reforçaram a necessidade de fiscalizar e punir quem coloca em risco a vida de outras pessoas ao dirigir seu automóvel, reconhecendo a limitação na quantidade de agentes da CET e depositando suas expectativas na entrada da GCM para ajudar a massificar essa fiscalização. Ressaltaram que o trânsito é ainda mais perigoso à noite e que essa fiscalização não pode continuar sendo feita só em horário comercial, pensando apenas na fluidez. Precisa ser feita 7 dias por semana e também durante a noite.
“Foi feito o convênio e os guardas [civis metropolitanos] já estão sendo capacitados”, afirmou Haddad. Tatto complementou contando que já há 1200 guardas treinados e que “a previsão é começar dia 15 de janeiro”. Os ciclistas apontaram que há situações, como conversões, que não são possíveis de serem registradas por equipamento eletrônico, necessitando de pessoas para fazer a fiscalização, e sugeriram a tentativa de uma articulação com a Polícia Militar para ajudar na fiscalização durante a noite.
Nos primeiros seis meses de 2014, mais de 10 mil multas foram aplicadas a motoristas que colocaram ciclistas em risco, numa média de uma autuação a cada 25 minutos na cidade. Veja aqui quais são as condutas autuadas.
Traffic Calming
Houve a sugestão de que as subprefeituras façam pequenas obras de traffic calming (acalmamento de trânsito), como por exemplo o avanço das esquinas – recurso conhecido internacionalmente como curb extension ou neckdown – para reduzir a velocidade dos automóveis nas curvas, justamente o ponto de travessia de pedestres. Também foram citadas as “lombofaixas” (travessias de pedestres elevadas) como forma de tornar o trânsito mais seguro para pedestres e ciclistas, com uma explicação de seu conceito e de sua correta implementação.
Convivência com ônibus e táxis
A urgência de treinamento com motoristas de ônibus, para que aceitem melhor o necessário compartilhamento com ciclistas nas faixas localizadas à direita da via, foi destacada com bastante ênfase pelos cidadãos presentes. Outra preocupação foi quanto a uma política clara em relação ao treinamento, pois as empresas alegam que os motoristas são treinados para compartilhar a via mas nem sempre é o que se percebe no dia a dia. As linhas de ônibus intermunicipais foram apontadas como um problema, pois não respondem à SPTrans e portanto não há nem ao menos como registrar denúncias. Por outro lado, comentou-se que os motorista, em geral, passaram a dirigir bem menos estressados depois da implantação das faixas e, portanto, mais receptivos, num panorama geral, a compartilhar esse espaço com ciclistas.
Solicitou-se a legitimação do direito de circular de bicicleta pelas faixas de ônibus à direita, pois hoje não há nada que indique com clareza ao motorista que o ciclista pode circular ali, resultando em situações graves de conflito. A sugestão é colocar pictogramas de bicicletas nas faixas de ônibus, em vias onde não há ciclovia, de maneira semelhante à sinalização das ciclorrotas. Isso passaria ao motorista a mensagem clara de que a bicicleta pode circular naquele espaço, pois há quem ameace propositalmente os ciclistas com base na certeza de que estão trafegando onde não deveriam. Esse compartilhamento funciona em várias cidades, como Paris e Londres, por exemplo. O secretário de Transportes sugeriu fazer um piloto, em local que ainda será estudado.
Também foi apontada a necessidade de alguma forma de treinamento com taxistas, pois a convivência com eles nas faixas precisa melhorar sobretudo nas faixas de ônibus. Os motoristas de táxi costumam usar essas faixas como pista de ultrapassagem e se incomodam com a presença de ciclistas à sua frente, muitas vezes ameaçando-os com seus veículos e criando situações de risco. Ainda a respeito dos táxis, foi reportado que há a intenção de liberar equipamentos para que possam transportar bicicletas, mas há regras que hoje impedem que isso seja implementado, o que precisa ser revisto.
Periferia
Representantes da região sul da cidade pediram uma maior atenção à periferia, onde a situação dos ciclistas é bem mais difícil que no centro expandido, tanto pelo comportamento dos motoristas quanto por características das vias e condições de asfalto. Foram citados os casos da M’Boi Mirim e da Ponte do Jardim Capela.
Jilmar Tatto afirmou que o plano de ciclovias prossegue agora para a periferia, mas reconheceu que há dificuldades com o traçado, sobretudo em bairros populosos. “O nosso objetivo é chegar nas divisas. Queremos chegar em todas as divisas de São Paulo.”
Campanha de comunicação
A campanha Respeito Bicicleta, realizada pela prefeitura em 2013, foi lembrada como ponto positivo, mas que ficou muito pontual e já foi esquecida. Os ciclistas pediram que haja uma campanha constante, com foco na legitimidade dentro e fora das estruturas, porque com o aumento das ciclovias a tendência é que as pessoas comecem a acreditar que os ciclistas devem se restringir a elas, não devendo circular nas demais vias.
Para que essa campanha seja feita com continuidade, o prefeito sugeriu que não se use TV por causa do custo. “Se a gente usar rádio, terminal, rádio comunitária, internet, painéis, os relógios da cidade, para ir passando a mensagem, com menos recursos a gente consegue dar perenidade, em uma campanha contínua. Em TV não tem como fazer isso, você não consegue fazer uma campanha de comunicação permanente, o custo é proibitivo”, destacou Haddad. “Acho que a gente deveria contar com formas alternativas, menos custosas, para ter essa continuidade – que talvez seja o segredo da consolidação desse programa”, completou.
Lei de Zoneamento
A Ciclocidade trouxe ao secretário Fernando Mello Franco um documento elaborado em conjunto com o LabCidade (FAU-USP), de contexto bastante técnico, abordando temas como medidas mitigatórias e compensatórias ligadas aos pólos geradores, envolvendo estruturas cicloviárias e acalmamento do tráfego nessa questão. Um dos objetivos é alinhar a lei aos avanços conquistados no Plano Diretor.
Ciclopassarelas
“Nós temos quatro ciclopassarelas já em projeto básico”, revelou o secretário de Transportes durante a reunião. Essas ciclopassarelas, todas sobre o Rio Pinheiros, serão construídas ao lado de pontes cuja estrutura não comporte reforma para acrescentar ciclovias e que, portanto, não estão no plano de adequação de 28 pontes. São elas: Cidade Jardim, Itapaiúnas (próximo à João Dias), Eusébio Matoso e Socorro. As estruturas serão conectadas à Ciclovia Rio Pinheiros. Divulgaremos mais detalhes em breve.
Fonte: Site Vá de Bike.