Boletim Sistemas Seguros #4 – agosto/2024

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Trânsito: mais letal do que arma de fogo

Assaltos, homicídios, latrocínios. A violência urbana desperta medo e preocupação no imaginário da sociedade mas, na maior parte dos estados brasileiros, é a violência no trânsito que mais tira vidas. Levantamento feito pela Abramet/RS, com base em informações do IPEA, mostra que essa foi a realidade de 14 estados do país em 2022. Por exemplo, em São Paulo, líder do ranking, foram 5.049 mortes no trânsito contra 1.760 homicídios por armas de fogo – quase três vezes mais (JC).

Entre diversos esforços para reverter esse grave quadro, o documentário Uma Escolha, Muitas Vidas (10 minutos), produzido pelo Detran/MS, traz mensagens contundentes buscando alertar motoristas e motociclistas para que sejam mais responsáveis em suas atitudes no trânsito. Um  depoimento do superintendente do Corpo de Bombeiros Hamilton Jr: 

“[Sinistros têm] muita relação com negligência, imperícia e imprudência. E ingestão de bebidas alcoólicas, excesso de velocidade, autoconfiança, desrespeito às leis de trânsito. (…) O que a gente tem que prestar atenção é que eu posso cometer um acidente e sofrer sozinho as consequências do meu ato. Mas em geral, no trânsito, eu não estou sozinho. Vai ter um pai, uma mãe de família. Vai ter um adulto jovem, um pedestre voltando pra casa. Um idoso atravessando a faixa. Uma criança que soltou da mão do pai para ir atrás de uma bola. Acontece todo dia” (Portal do Trânsito | documentário).

Mesmo quando não matam, sinistros de trânsito podem trazer traumas permanentes. As histórias de recuperação de sobreviventes também podem servir de inspiração para que as pessoas sejam mais prudentes na direção (Portal do Trânsito).

A redução de velocidades é o tema escolhido pela Senatran para as campanhas de educação no trânsito em 2025. O que ainda está em aberto é qual será a mensagem usada nas peças, e o público é quem está fazendo essa escolha. Até 31 de agosto, você pode votar na mensagem (Ministério dos Transportes) e também dar suas contribuições para a minuta da resolução que vai reger a campanha (Ministério dos Transportes). Ainda dá tempo!

Avanços na jurisprudência?

Já são pelo menos 50 mortes causadas por motoristas em carros de luxo nos primeiros sete meses deste ano (UOL). Um dos casos emblemáticos, a morte do motociclista Pedro Kaique ao ser perseguido por Igor Ferreira Sauceda em um Porsche amarelo, faz ponderar se o absurdo no trânsito já se banalizou a ponto de se tornar a paisagem (UOL).

Mas o entendimento da Justiça sobre este tipo de situação pode estar mudando. No mesmo caso do Porsche amarelo, a juíza Vivian Brenner de Oliveira considerou que o teste do bafômetro de Igor Sauceda ter dado negativo e ele ter permanecido no local sem resistir à prisão não afastam a gravidade da conduta. Afirmando que as “imagens são claras” em mostrar que ele “utilizou o veículo como verdadeira arma”, a juíza manteve a prisão preventiva e a tipificação de homicídio doloso, quando há intenção ou assume-se o risco de matar (Correio Braziliense).

Mudanças no mercado de veículos

Os automóveis mais baratos, que por muito tempo foram chamados de ‘carros populares’, já não são os que vendem mais. Com a queda generalizada do poder aquisitivo da população, até mesmo os modelos de menor valor estão hoje fora das possibilidades para muita gente (UOL).

Ao mesmo tempo, as vendas de motos disparam. Levantamento da Fenabrave indica, no primeiro semestre deste ano, um crescimento de 19,6% em relação ao mesmo período de 2023 (Estadão). A produção nacional é a maior dos últimos 14 anos (Abraciclo).

O dado preocupa pois a moto é o veículo que concentra os maiores riscos. Dados do Ministério da Saúde mostram um aumento de 55% na taxa de internação em dez anos, passando de 3,9 por 10 mil habitantes em 2011 para 6,1 por 10 mil habitantes em 2021 (Correio do Estado).

Ações (e omissões) contrárias à segurança

Quase um ano após a promessa de que a velocidade máxima permitida para a Avenida Lúcio Costa, no Rio de Janeiro, seria readequada de 70 para 50 km/h, a ação ainda não aconteceu. “Falha absurda da CET-Rio, eu assumo a responsabilidade”, afirmou o prefeito Eduardo Paes. A via ficou conhecida pelo atropelamento do ator Kayky Brito, em 2023. Desde então, sem a readequação de velocidade, houve pelo menos uma morte nessa mesma via (O Globo). Há poucos dias foi anunciada a construção de redutores de velocidade (lombofaixas), que devem ficar prontos em três meses (O Globo).

Já está em vigor o aumento do limite de velocidade no corredor Transbrasil do BRT, de 40 km/h para 60 km/h (O Globo). E foi criada uma motofaixa na autoestrada Lagoa-Barra – uma via de 80 km/h em que faixa de motos estará limitada a 60 km/h. A medida é criticada por especialistas (O Globo).

Rodovias que perdoam

Nos Sistemas Seguros, a infraestrutura viária deve ser projetada para minimizar a chance de que um erro humano, sempre sujeito a acontecer, produza um resultado grave ou fatal (WRI). 

Dentro deste tema, a edição dominical do Jornal do Commercio de Pernambuco trouxe um especial sobre o conceito de Rodovias que Perdoam, surgido na década de 1960. Uma rodovia que perdoa é aquela que tem o projeto pensado para abrandar as consequências dos sinistros de trânsito, ou mesmo evitá-los (JC).

Em tempo: o Painel Rodovias que Perdoam, da Confederação Nacional do Transporte, avalia o quanto a malha rodoviária brasileira é capaz de mitigar os sinistros (CNT).

Pedestres, os mais vulneráveis

A data de 8 de agosto é celebrada como Dia Mundial do Pedestre. Mas temos algo a comemorar? Pesquisa do Instituto Real Time Big Data em julho mostrou que 87% das pessoas entrevistadas acreditam que motoristas não respeitam pedestres; 83% não se sentem seguras ao atravessar ruas e avenidas; e 62% já tiveram que correr para não serem atropeladas. Para 56% dos entrevistados, a sinalização viária das cidades não é adequada para pedestres (R7).

“Será que o pedestre é um desobediente contumaz ou será que as faixas de travessia não estão nos locais onde as pessoas desejam atravessar, e sim nos locais onde elas atrapalham menos o tráfego dos veículos?”, questiona a arquiteta urbanista Meli Malatesta (R7).

Olimpíadas, paralimpíadas e seus desafios

Durante os Jogos Olímpicos, muitas reportagens destacaram a cidade-sede, Paris. E, na capital francesa, quem brilhou foram as bicicletas. A cidade construiu 60 km de ciclofaixas para interligar todos os locais dos dois megaeventos – estrutura que ficará como legado. Além disso, ampliou o sistema de compartilhamento e os paraciclos nos locais de competições (Prefeitura de Paris, em inglês).

Outras cidades-sede bem que tentaram: Pequim, Londres, Rio de Janeiro, Tóquio. Mas os Jogos de Paris foram os primeiros a serem considerados totalmente cicláveis (Bloomberg, em inglês). O desafio se volta agora para Los Angeles, que prometeu uma Olimpíada “livre de carros” em 2028, mas ostenta um dos maiores índices de congestionamentos dos Estados Unidos (Exame).

Fato é que Paris vem implementando sua visão de longo prazo. Expansão da infraestrutura cicloviária, ruas para pedestres, incentivos financeiros para substituir automóveis por bicicletas convencionais ou elétricas e efetiva integração com o transporte público. São lições para outras cidades (Momentum, em inglês). Hoje, 11% das viagens são feitas em bicicleta, 30% em transporte público e 53% a pé. De carro? Só 4% (Estadão). Os dados são de abril de 2024 (IPR, em francês).

No dia 28/8, começaram os Jogos Paralímpicos. A medalhista de ouro em Tóquio Ambra Sabatini carregará a bandeira italiana. Vítima de um sinistro de trânsito em 2019, ela se tornou porta-voz da segurança viária. Sua história é contada em um documentário que acaba de ser lançado (Il Mattino, em inglês). Para lembrar: nos Jogos Paralímpicos do Rio, em 2016, 49 dos 285 atletas da delegação brasileira – 17% – eram vítimas de sinistros de trânsito (EBC).

Cidades a 30 km/h

Foram divulgados os dados sobre os seis primeiros meses do Città 30, o programa de redução de velocidade de Bolonha, a primeira grande cidade italiana a implementar de forma ampla o limite de 30 km/h. O número de sinistros caiu 11%. Sinistros graves caíram 38%. A queda no número de mortos e feridos foi, respectivamente, de 33% e 12%. Por outro lado, a redução de velocidade beneficiou outros modos: o uso de bicicleta aumentou em 12% e o de transporte público subiu 11% (FIAB, em italiano).

Publicações

A cada 49 segundos morre uma pessoa no mundo como resultado do excesso de velocidade, com 95% de chances de que isso ocorra em um país de baixa ou média renda. Velocidades excessivas ou inadequadas contribuem para 54% das mortes globais. Os dados estão entre as conclusões da recente revisão de literatura sobre o tema publicada na revista científica Transportation Engineering. “Essas descobertas têm implicações significativas para os formuladores de políticas, ressaltando a necessidade urgente de priorizar intervenções que reduzam a velocidade e melhorem a segurança viária”, resumem os autores (ScienceDirect).

Para ler as edições anteriores do boletim Sistemas Seguros, acesse este link.

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