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Com um ciclista morto por semana, cidade de São Paulo registra escalada atroz de violência no trânsito em 2017

 

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Ciclista Gilmar Barbosa da Mata, morto
ao pedalar para o trabalho pela primeira vez

 

Semanalmente estamos nos deparando, atônitos, com casos quase surrealistas de violência no trânsito na cidade de São Paulo. São colisões em alta velocidade que culminam em corpos carbonizados, como aconteceu com o comissário de bordo Alexandre Stoin no mês passado, ou o atropelamento de anteontem, do pintor Gilmar Barbosa, que foi cruelmente arrastado por 5 quilômetros desde Osasco até cair morto, sem qualquer piedade ou socorro pelo atropelador, no Cebolão.

A cidade de São Paulo está mais violenta, mais permissiva com motoristas agressivos. Induz a altas velocidades e fiscaliza menos o comportamento de quem coloca a vida de todos em risco. O resultado é assustador: houve um aumento de 64% nas mortes de ciclistas de janeiro a julho de 2017 em comparação com o ano passado, segundo dados do Infosiga, do Governo do Estado de São Paulo. SESSENTA E QUATRO porcento. E houve aumento de 19% nas mortes de pedestres, no mesmo período.

 

Inversão da tendência de queda

A curva de mortes de ciclistas vinha caindo desde 2005, registrando queda ano após ano. Em plena chegada de setembro, Mês da Mobilidade, já podemos considerar 2017 como um ano que voltará ao patamar de mortes anterior a 2010 – ano em que as primeiras políticas de redução de velocidade foram implantadas, com resultados positivos imediatos sobre a segurança viária e a vida de todos. São quatro ciclistas mortos por mês na cidade, ou seja, um por semana.

O aumento da violência no trânsito não é fortuito. Colisões e atropelamentos não são “acidentes”, pois podem sempre serem evitados, especialmente com ações assertivas e proativas do Estado, que continuamente favoreçam a vida em detrimento das velocidades, da pressa, e da lei do veículo mais forte.

Em São Paulo, pelo contrário, verificamos (1) o afrouxamento da fiscalização, especialmente fora do centro expandido, reduzindo ainda mais a capacidade do poder público em coibir o comportamento de maus motoristas (importante ressaltar que um levantamento relativamente recente, e ainda válido para o cenário atual, aponta que a CET aplica apenas 1 multa a cada 4.416 infrações de trânsito); (2) o efeito do slogan “Acelera, São Paulo”, que naturaliza o comportamento nocivo de intencionalmente acelerar no trânsito; (3) o aumento dos limites de velocidade nas marginais, cujo efeito reverbera sobre o comportamento de motoristas na cidade toda; (4) a descontinuidade das políticas cicloviárias, especialmente de expansão de ciclovias e ciclofaixas e manutenção da rede já implantada, políticas que salvam vidas garantindo segurança e conforto para quem pedala na cidade; (5) a ausência de treinamento e capacitação para motoristas profissionais, tais como motoristas de ônibus, microônibus, vans, transporte escolar e taxistas; (6) a inexistência de campanhas amplas de comunicação visando a um trânsito menos violento.

 

Em vez de tomar atitude, a Prefeitura de São Paulo tenta desqualificar os números

Sobre os números que revelam o aumento de mortes de ciclistas, a Prefeitura de São Paulo, até o momento, não apresenta nenhuma resposta. A gestão tem se limitado a criar confusão com os números, deslegitimando a fonte e a base de dados do Governo do Estado de São Paulo.

A Prefeitura também parece dormitar no que se refere à execução e implantação de um plano de ação para garantir segurança para quem pedala na cidade.

São Paulo como cidade das bicicletas mudou bastante, e para melhor na última década. Desde a construção das primeiras ciclofaixas de lazer, em 2009, a capital paulista construiu 468 quilômetros de estruturas dedicadas e permanentes, criou o sistema cicloviário no Plano Diretor Estratégico, escreveu seu Plano de Mobilidade Urbana e acumulou um planejamento até 2030 que, se devidamente implementado, reduziria mortes e elevaria sensivelmente o uso de bicicleta como meio de transporte.

Não há como não se incomodar com o fato de que mais ciclistas estão morrendo, majoritariamente nas periferias. E, enquanto a gestão finge não enxergar a fragilidade de ciclistas no trânsito e o bárbaro aumento no número de mortes por atropelamento, enquanto não reconhece seus erros e busca estrategicamente confundir com a batalha perversa de metodologias de obtenção de dados, ciclistas irão às ruas instalar mais uma ghost bike e gritar, ainda que para surdos ouvidos, por mais e melhores políticas cicloviárias.

Segue convite para a bicicletada extraordinária NÃO FOI ACIDENTE: https://www.facebook.com/events/483261275376830/

 

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